Sei que a caridade é uma das virtudes mais importantes e parece tão fácil de realizá-la. No entanto existem situações que representam focos de resistência onde uma série de dúvidas impede essa prática. A caridade em parada nos semáforos onde várias pessoas, menores, adultas e idosas, disputam uma moeda por todos os métodos: lavagem de vidros, venda de balas, e diversos outros ítens, até mesmo a esmola simples. Nesses momentos surge na consciência de que posso estar sendo ludibriado, essas pessoas podem estar ganhando no final do dia muito mais do que eu, sem contar que muitas delas já tem uma aposentadoria; que podem estar sendo exploradas por outras pessoas que as deixam em locais estratégicos... tudo isso me deixa na defensiva.
Por outro lado, o coração adverte que a minha ação caridosa não deve deixar que isso a atrapalhe. Não importa o que aconteça depois que minha ação caridosa seja realizada. Isso já é com "eles" e com Deus. Mas a minha razão leva essas outras alternativas perversas em consideração e sempre está vencendo a parada. A maior parte das vezes resisto ao ato de doar a tão perseguida moeda. Outras vezes, com menor frequência, eu faço a doação, mas com uma certa rigidez que sei não é a forma mais adequada. O coração permite o ato, mas a razão sempre atenta, fica a advertir que eu posso estar sendo cumplice de um crime, de uma exploração de um menor ou de um idoso.
Vou entrar o ano novo com esse conflito na minha consciência e nos semáforos eu sei que a razão vai continuar vensendo o embate. No entanto, a razão tem que ficar comprometida em se esforçar para corrigir essa distorção, esse crime que pode existir à luz do dia.