A verdade pode ser uma companheira inconveniente em determinadas situações, se a apresentarmos irá causar constrangimentos e sofrimentos a quem estar ao nosso lado, até mesmo pessoas que amamos. Tem momentos que é justificado a sua omissão ou mesmo a negação em função da harmonia que desejamos ter ao nosso redor. Isso corresponde ao que chamamos hoje tecnicamente de habilidade social. É uma habilidade positiva que tira a crueza da assertividade, mas por outro lado, se persistir por muito tempo, gera uma realidade falsa amadurecida e aí reside o perigo. Vejamos só os passos: em nome da harmonia aplicamos a habilidade social; montamos ao nosso redor uma farsa que amadurece ao longo do tempo; essa farsa se dissolve ao menor contato com os fatos reais com grande prejuízo aos seus autores. Se somos pessoas boas, com boas intenções, a habilidade social que escamoteia a verdade não pode se cronificar. É elegante e digno que, antes da realidade destruir o falso mundo que está em construção, nós mesmos, os seus construtores, armados com a coragem de pedir perdão, colocar os motivos pelos quais isso foi feito, apresentar os ideais que justificaram os nossos atos até esse ponto. Com essa explicação o conflito se instaura, a harmonia se perde. Mas por outro lado a verdade impera! E isso é o mais importante. Pois, se o fato que causou o afastamento da verdade é realmente importante, ele deve ser trazido à luz da verdade com todos os detalhes; caso esse fato não seja importante, também não é importante que ele seja repetido, fortalecido e amadurecido, o próprio tempo se encarregará de sua destruição por inanição, e aquela omissão/mentira inicial perde importância também.
Depois de tudo esclarecido, o conflito formado, resta agora lutar pelo restabelecimento da harmonia, agora sob a luz da verdade. Vamos verificar que os lados opostos possuem opiniões diferentes sobre os fatos praticados, cada um com seus argumentos sólidos. Caso esses fatos estejam cumprindo metas do meu ideal de vida, não posso abandoná-los, a não ser que os argumentos contrários venham trazer motivos para uma mudança de opinião. Caso isso não aconteça, nem de um lado nem de outro, o único recurso que viabilizará a convivência entre os contrários será a TOLERÂNCIA. Não existindo, o lado mais forte tende a subjugar o mais fraco, o que abre as portas para diversos sentimentos e atitudes negativas: medo, raiva, prepotência, ansiedade, depressão, vingança, etc. Para evitar que chegue a esse nível, o lado mais forte do relacionamento tem duas opções: a ABNEGAÇÃO ou o ROMPIMENTO.
Na abnegação a pessoa renuncia, faz o sacrifício do seu próprio interesse em função do interesse alheio. A pessoa vai negar voluntariamente seus desejos e ideais em função dos desejos e ideais do outro. Pode oferecer sua vida a uma causa religiosa, política, familiar, social de qualquer natureza, mas que não é a sua causa. Então passa a viver de forma robotizada, sem sentido próprio, esperando de Deus apenas o seu término e às vezes o acelerando com ações diretas ou indiretas.
O rompimento é o outro caminho que parece ser o mais saudável, de acordo com a independência financeira e emocional. Não é que esse rompimento leve obrigatoriamente a uma perda do relacionamento, e sim à quebra da convivência. Convivência essa que poderia estar existindo do nascimento até esse instante. Por isso é um momento doloroso, muito difícil, mas necessário. As partes devem compreender, à luz da razão, que cada um tem o direito de viver os seus ideais, ninguém tem o direito de impor o seu ideal sobre o ideal do outro.
Deve ficar também claro que toda essa movimentação de sentimentos, emoções e razões, só têm condições de levar crescimento a todos os envolvidos, se estiver sempre ao lado da verdade. Pode até ser que falte tolerância, compaixão, perdão, mas jamais deverá faltar a verdade!