Quando temos uma missão à cumprir na consciência podemos observar uma espécie de nebulosa a ocultar o destino final. É como se soubéssemos o caminho, mas a caminhada não uma rota fixa, podendo sofrer desvios aqui e ali independente de nossa vontade. Como estamos no campo dos relacionamentos humanos, o embaraçamento que surge à frente ou ao lado, se deve aos afetos contraditórios de quem conosco caminha. Observo muito o exemplo de Jesus. Ele tinha bem claro na sua mente qual era a sua missão e até qual a consequência dela para si e para a humanidade. Mesmo assim, com toda a inteligência que Ele possuía, toda sintonia que tinha com o Pai, mesmo assim ficava em alguns momentos embaraçado com o comportamento, pensamento e afeto dos discípulos que caminhavam com Ele. Chegou até a levantar a voz para o mais próximo deles, o Pedro, o acusando de ser porta-voz do satanás, quando este queria mudar o rumo do seu caminho para outros objetivos. Outro que sempre estava sendo advertido era Judas que tinha uma preocupação maior com o Reino material em que estava inserido do que com o Reino espiritual que Jesus defendia. Mas o Mestre conduziu todas essas opiniões contrárias, ignorância, fraqueza moral, com maestria e até utilizou delas para se cumprir o que profetizava, concluir sua missão.
Guardadas as devidas proporções, também sinto no horizonte do caminho, o fim da minha missão, esse tipo de embaraçamento. Dessa vez provocado por minhas companheiras que são peças chaves na disseminação do pensamento por trás da minha missão, assim como foram os apóstolos para a missão do Cristo. Sinto que estou munido com as principais informações dos objetivos espirituais que devo atingir, tenho uma boa sintonia com Deus, recebo comunicações e orientações a cada etapa da jornada e as pessoas significantes do projeto são colocadas ao meu alcance. O que tenho dificuldade de administrar são os afetos díspares que surgem das mentes dessas companheiras que pensam de forma diferente. A construção de uma sociedade de amor inclusivo que prepara as condições para a formação da família universal, se contrapõe de forma contundente à sociedade de amor exclusivo que sustenta a família nuclear, e onde elas foram educadas e guardam todas suas expectativas. Por mais que percebam a beleza e a justiça do que defendo, mesmo assim elas não conseguem se desvencilhar dos afetos exclusivistas e isso gera grandes obstáculos na condução do processo. As informações ficam omissas em muitas ocasiões, os projetos imediatos não são explicitados e se tenta avançar como se “pisando em ovos” para não gerar raiva, mágoa ou ressentimento ao redor. Como então passar esse projeto de uma situação mais íntima, que apresenta tantos obstáculos, para a situação pública onde servirá de modelo e opção de conduta para todos? Este é o grande obstáculo! Sinto que depende de mim esse confronto, de colocar com toda a clareza os próximos passos do caminho, mesmo que isso leve como consequência a minha solidão, de eu caminhar iluminado pela verdade, mas isolado, como um elemento carregado de amor, mas que emite verdadeiros choques emocionais a quem se aproxima demais. Peço a Deus sabedoria para compreender todo esse complexo de emoções que embaraçam o caminho e que eu tenha força moral suficiente para colocar em prática o que é necessário para a conclusão da missão que Ele confiou a todos nós.