Estava perto de terminar o meu trabalho no consultório, quando ouvi fora da sala um alarido de vozes e as pessoas que estavam na sala de espera, inclusive a secretária, correram para onde eu estava. Diziam de forma descontrolada que acabara de entrar um ladrão na sala. Diziam com voz trêmula e outra com o corpo todo em tremores, quase não conseguia emitir nenhuma palavra inteligível. O paciente que acabara de sair da sala queria ir pegar o ladrão; as mulheres queriam se esconder na minha sala. O tumulto estava feito. Procurei manter a serenidade, mas também estava com medo. Não sabia que tipos de armas esses ladrões conduziam e do quanto ele estavam disposto a cometer para obter o que queriam. Felizmente a passagem deles foi muito rápida. Entrou um na carreira, oculto por um capacete e foi direto para o caixa onde se guarda o dinheiro das consultas e voltou aceleradamente para o outro comparsa que o esperava na moto na frente do Hospital. Felizmente a secretária havia colocado em outro local.
Ficou lição dura, mas necessária. É necessário um controle vigilante mais firme na entrada do hospital. Mas isso não é uma solução definitiva. Isso é apenas um atenuante, uma condição que nos deixa cada vez mais prisioneiros dentro de nossos próprios espaços de moradia e de trabalho. A sociedade humana se deteriora, apesar do grande progresso tecnológico e científico que alcançamos. Nós, cidadãos pacatos que pagamos nossos impostos para que o Estado se organize e defenda todos os seus filhos, pobres ou nobres, assaltantes ou assaltados, na forma de prevenção que corrija as distorções de renda per capita de cada um, não vemos resultados positivos.. A ganância dos dirigentes, a força dos impulsos materiais, o egoísmo, a prepotência, o orgulho e toda série dos diversos pecados, alimentam essa continuação através dos séculos. Sei que nossa ação positiva e individual é tão inócua quanto a gota d’agua que o beija-flor levava no seu bico para atenuar o incêndio que tomava conta da floresta, mas é o que podemos fazer, é o que devemos fazer.