Decidi que seria caridoso. Não iria mais ver o irmão que estende mão para mim como um preguiçoso, um viciado, um explorado ou um explorador. Poderia até ser tudo isso, mas eu faria a minha parte enquanto um seu irmão que o que pode fazer na ocasião é dar uma moeda, é dar uma palavra, um pedaço de pão. É mais fácil dar a moeda ou o pedaço de pão. Basta estender a mão, posso nem mesmo olhar para a pessoa. Sinto no coração e leio nos livros, nas mensagens dos avatares, que a palavra, o compartilhar a dor do outro é a maior forma de caridade. Mas aí reside a dificuldade. Não encontro palavras para abordar o outro de forma caridosa, tudo parece tão forçado e artificial. A motivação deve partir do coração, e não da minha racionalização, mas porque o meu coração é tão duro, inflexível? A minha mente não aceita como positivo o exercício pleno da caridade? Então porque minha inteligência não encontra os caminhos para vencer esse bloqueio? Tenho a impressão que fazendo a caridade integral, obedecendo completamente as instruções dos avatares, eu me transportarei desse mundo material para o espiritual, estarei divorciado por completo das ligações que me atam aos interesses mundanos. Isso é apavorante! Tudo que fiz até hoje deixará de ter sentido, os bens materiais, os títulos acadêmicos, o status social, tudo se transformará! Será esse o meu medo? Será realmente a caridade a porta de entrada para outra dimensão? Ficarei mais perto de Deus dessa forma? Mas não é isso que desejo? Então, por que vacilo tanto? Será isso outra manifestação da covardia em minha vida? Não tenho resposta firme até esse ponto. Sei apenas da importância da caridade e que já dei um pequeno passo nessa direção, mesmo que seja com uma caridade capenga.