O meu pensamento hoje está integrado ao pensamento cristão. Procura cumprir a principal Lei de Deus, a Lei do Amor com todos os seus derivativos, usando a bússola que Jesus nos ensinou, de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Entre os derivados da Lei do Amor, existe o princípio da Liberdade que deve garantir a integridade do amor. Caso nossa liberdade seja cerceada, por qualquer que seja o motivo, excluindo aqueles que prejudiquem a terceiros, isso atenta contra a Lei do Amor e contra nós mesmos. Nesse caso a liberdade de pensamento também é fundamental para manter a fluidez do amor também à nível cognitivo. Posso conhecer qualquer linha de pensamento, mesmo que aparentemente seja diferente da que acredito no momento. Posso participar de rituais, de culturas diferentes da minha e em tudo procurar avaliar com senso crítico o que outros grupos professam, acreditam e realizam. Descobrindo valores ou verdades, maiores ou mais consistentes que a minha verdade assim acreditada até o momento, o meu senso de coerência deve modificar o meu pensamento e/ou comportamento para a integração da nova verdade. Assim fazendo cada um, teremos o crescimento evolutivo e desenvolvimento consciencial e moral da humanidade. Hoje eu me deparo com uma espécie de dilema no meu caminhar consciencial. A instituição do casamento como eu imaginava antes, hoje perdeu o sentido para mim. A ideia do Amor Incondicional que aceitei como uma verdade mais pura e completa, colocou em cheque a prática do amor exclusivo que eu mantinha no meu relacionamento conjugal. Passei a entender que o amor inclusivo (não-exclusivo) era mais simpático ao Amor Incondicional do que o amor exclusivo, romântico, que mantém as famílias reunidas em grupos fechados e abre diversas justificativas para o exercício do egoísmo em todos os planos. Tirei então a instituição do casamento de minha vida e passei a defender e aplicar o amor inclusivo, alicerçado pelo Amor Incondicional. Isso então me coloca fora da cultura da minha comunidade, pelo menos da que é aceita de forma oficial. Então vem outra preocupação. Será que isso vai de encontro ao meu pensamento cristão? Mas vejo que o pensamento cristão também está alicerçado no Amor Incondicional. Mesmo que os textos cristãos defendam o casamento como forma de relação de justiça entre homens e mulheres, não vejo que essa questão esteja fechada. Para aqueles que aceitam as condições e cumprem com honestidade os seus preceitos, tudo está correto. Mas para alguém como eu que coloca restrições com suporte da lei maior, da Lei do Amor Incondicional, acredito que deve ser encontrado outra alternativa de relacionamento que se ajuste melhor a liberdade que a Lei favorece. Então, a aplicação do amor inclusivo nesse contexto, mesmo criando uma espécie de cultura diferente, tem o Aval superior. E nesse conflito de cultura e de pensamento cristão, lembro o debate que havia entre os primeiros cristãos. Existia uma corrente que defendia que para ser cristão era necessário fazer a circuncisão o que era difícil de aceitar pelos gentios. Paulo defendia, e foi entendido pela maioria, que a pessoa poderia ser cristão sem fazer a circuncisão, pois isso era uma prática da cultura judáica e que não poderíamos enquanto defensores de uma crença que tinha o caráter universal ficar restrito a uma cultura local. Isso me deixa mais confortável, pois a cultura do casamento tradicional com suas implicações, não atinge o meu pensamento cristão universal; é uma faceta da cultura a qual estou integrado, da qual posso abrir mão, sem comprometer o meu papel de cidadão e principalmente de cristão.