Co-dependência hoje é reconhecida como uma doença. Pode ter diversos matizes de acordo com o tipo de dependência que se instala. A mais comum é a co-dependência química, quando uma pessoa, geralmente um homem, passa a ficar dependente de uma droga, quer seja álcool, maconha, cocaína, e a pessoa mais próxima, seja mãe ou esposa, no anseio de ajudar termina por ficar com o emocional tão ligado que termina adoecendo também. É a co-dependência química. Existe uma outra dependência que gera co-dependência que talvez seja mais perversa que a co-dependência química. É a co-dependência afetiva. Talvez seja mais perversa porque é construída desde a infância. Geralmente é a mãe que dedica um amor tão especial por um dos filhos, uma dependência afetiva tão forte, que o outro responde com a co-dependência. Sofri esse problema na pele. Fui criado por minha avó e esta despejava sobre mim toda sua atenção, cuidados e privilégios. Todos os outros netos eram desconsiderados, todos eram os demônios, só eu era o santinho. Evitava que eu namorasse, que tivesse amigos... só vim saber como era que se realizava o ato sexual por volta dos 17 anos de idade. Mesmo servindo a Marinha, não tinha coragem de chegar perto dela e apresentar a minha namorada. Hoje lembro de tudo isso com a nostalgia daqueles tempos e também da minha fraqueza em não tomar decisões fortes na frente da minha avó. Mesmo sendo independente financeiramente e tendo o status social de um militar. Hoje vejo pessoas com o mesmo grau de co-dependência, sofrendo cerceamento da liberdade em nome desse amor tão possessivo. Vejo como ficam fragilizadas essas pessoas. Sinto empatia por elas, sinto o sofrimento delas hoje, como o meu que foi ontem. As vezes não sei nem como orientar de como sair dessa arapuca, pois ela é forjada com o material intitulado de amor. Mas o amor não é paralelo à liberdade? O amor não deve respeitar as decisões do ser amado e ficar de prontidão para ajudar se necessário? Que as orientações e conselhos não podem ter as características do autoritarismo? Não, a melhor forma de sair dessa situação é evocar o verdadeiro amor com toda as suas características, de tolerância, liberdade, fraternidade, mas também com firmeza para que o falso amor não continue a prevalecer anos e anos.