Quando amadurecemos nossa forma de pensar, concluímos que o nosso Eu sofre transformações físicas e psicológicas ao longo do tempo: recém-nascido, criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, ancião... cada uma dessas fases apresenta características distintas e o físico é o que mais visível se torna. Muitos ficam preocupados com essa evolução biológica e procuram retardar por vários mecanismo a chegada na fase de idoso, de ancião. Não percebem que cada uma fase tem suas características e sua beleza própria, mesmo que a face seja sulcada pelas rugas, que a musculatura não responda a vontade, que os diversos órgãos comecem a falhar. Mas o que quero destacar com esse titulo de OUTROS EUS são os paradigmas psicológicos que vamos estruturando ao longo do tempo e que direciona o comportamento, qualquer que seja a fase biológica do desenvolvimento. Eu posso citar três fases bem distintas no meu desenvolvimento e que divido em 30 anos cada uma delas.
Os primeiros 30 anos da minha vida foram caracterizados por um extremo romantismo que foi construído pelo universo de minhas leituras, principalmente de gibis onde os mocinhos vitoriosos sempre defendiam a ordem e a justiça com pitadas de amor romântico como o tempero emocional das aventuras. Incorporei ao meu primeiro paradigma de vida essa promessa de amor romântico, exclusivo, para todo o sempre, “até que a morte nos separe”.
Na fase dos 30 aos 60 anos comecei a verificar que o amor inclusivo, aquele que não exclui ninguém, que pode aprofundar até mesmo na esfera sexual com essa proposta de inclusão. Claro que isso entra em confronto direto com a cultura instalada. Apesar de todo o meu esforço de tentar mostrar a beleza desse tipo de relacionamento, não consegui êxito com minha primeira esposa que me expulsou de casa por esse motivo. Casei a segunda vez e mostrei desde o início a minha forma de pensar do meu paradigma de amor inclusivo. Também não tive êxito e para tentar segurar o relacionamento até me propus a morar como amigo com minha segunda esposa. Mesmo assim ela não consegui acompanhar a minha forma de pensar e também me expulsou da sua casa.
Agora que entro na terceira e última fase da vida, 60 anos em diante, tenho cada vez mais consolidada a importância do amor inclusivo e que está atrelada ao Amor Incondicional, ao amor divino, com muito mais coerência. Em função disso desenvolvi o senso de responsabilidade comigo, com o próximo (principalmente minhas parceiras e companheiras) e com a comunidade. Compreendo que essa forma de agir vai de encontro a cultura egoísta em que vivemos, mas que tem o potencial de se aproximar do Reino de Deus que o Cristo nos ensinou a construir dentro da gente e em seguida na comunidade. Assim hoje é o meu último Eu, sabedor que não tenho perfil para conviver com ninguém em regime de casamento onde o amor exclusivo é a tônica; que todos que se aproximam de mim e que mostram sintonia suficiente para um aprofundamento sexual, fazem parte de minha família com o potencial de se ampliar diretamente proporcional a capacidade de amar; e que fazendo assim estou fazendo a vontade do Pai que deseja uma sociedade fraterna, justa e solidária, com o amor fluindo entre todos e sem encontrar nenhum tipo de barreira para sua expressão.