Geralmente um mesmo fato pode gerar interpretações diferentes. A Bíblia dá um bom exemplo. Calebe e Josué fizeram parte dos doze espiões que Moisés mandara à terra de Canaã depois da travessia do Mar Vermelho para verificar as condições de entrar nessa terra. Dez espiões deram um relatório pessimista sobre a conquista de Canaã, dizendo que havia cidades fortificadas, que os habitantes eram muito poderosos e que existiam gigantes ali. Calebe e Josué viram as mesmas coisas, mas deram um relatório animador. O problema é que o povo ouviu os dez espiões desanimados e por seguir uma interpretação desanimadora tiveram que peregrinar pelo deserto por quarenta anos até que a geração adulta morresse no deserto, com exceção de Calebe e Josué.
Tenho um problema parecido com esse relacionado à leitura da Bíblia e aos seus ensinamentos. Faço uma interpretação otimista dos ensinamentos de Jesus, aceito que o Amor é a maior força do Universo, que se confunde com o próprio Deus e que a sua correta aplicação é o desenvolvimento do Amor Incondicional, à Deus em primeiro lugar e ao próximo como a mim mesmo. Fazendo assim dentro dos diversos relacionamentos que faço na comunidade, desenvolvo uma forma de amar inclusiva que viabiliza a ampliação da família em direção à Família Universal preconizada pelo Mestre e dessa forma estabeleceremos o Reino de Deus.
Acontece que, diferente de Josué que tinha um companheiro que interpretava como ele a situação que viam, eu não encontro ninguém que interprete como eu a situação que aprendo nos livros sagrados. Por isso sou criticado por todos, que me acusam de herege, tarado, demoníaco. Quando o perfume do amor que exalo atinge a quem se aproxima de mim, pode ser gerada uma boa empatia, amor, ou mesmo paixão e a pessoa mesmo não aceitando completamente a minha interpretação, a respeita e procura até conviver intimamente comigo. Porém o mundo não as perdoa também. Elas recebem críticas de todos os lados, inclusive das pessoas que deviam por natureza as amar em profundidade e incondicionalidade, os parentes, principalmente pai e mãe. Essas pessoas sofrem, talvez, muito mais do que eu. Elas não têm a completa interpretação e convicção que tenho das lições e a força de aplicá-las no entorno. Elas que poderiam e deveriam ser parceiras, solidárias, fraternas, para enfrentar a força da interpretação exclusivista e egoísta que prevalece na comunidade, deixam que se desenvolvam nelas o mesmo sentimento de egoísmo, de isolacionismo, que prevalece ao lado do amor condicional dos que interpretam a Bíblia como uma perene forma de manter os relacionamentos estanques, exclusivistas.
Espero ter a mesma fé e perseverança de Josué, não importando os obstáculos ou dificuldades por querer realizar na prática a interpretação que Deus colocou na minha consciência de sua Lei: amar de forma incondicional!