Os muçulmanos contam a seguinte história: “Ibrahim (Abraão para os judeus e cristãos), era um grande profeta, pai de todos os crentes. Como sua velha esposa Sara não tinha filhos, ela convenceu o marido a conceber um filho com a jovem Agar, sua criada. Depois, por sua vez, Sara teve um filho. Ibrahim tinha, portanto, dois filhos: o de sua mulher Sara, que se chamava Isaac, e o de Agar, sua amante, que se chamava Ismael. Mas Sara, enciumada, pediu para que Agar fosse mandada embora, e Ibrahim acompanhou-a com Ismael ao deserto, onde a deixou sob a proteção do Todo-Poderoso. Os judeus se dizem filhos de Isaac, os mulçumanos de Ismael, e é por isso que Ibrahim (Abraão) é pai de todos.”
Interessante que os judeus e cristãos defendem que Deus quis experimentar a fé de Abraão e ordena que ele sacrifique seu filho único, Isaac. Considera assim, Isaac como o filho único, legítimo, enquanto o outro era o filho de uma criada, enfim, um bastardo. Essa não é uma fonte de exclusão que ainda hoje repercute em todo o mundo?
Essa situação é um bom motivo para evocarmos o Deus justo, amoroso e compassivo que conhecemos, defendemos e adoramos para ser o juiz dessa contenda.
Primeiro, apresentaremos os fatos: a) Abraão e Sara eram casados num sistema de família nuclear, com base no amor exclusivo; b) desejavam ter filhos, mas como não conseguiam a solução encontrada foi “usar os serviços da criada” para esse fim; c) depois de ter conseguido o seu próprio filho, Sara expulsa a criada e filho com a anuência de Abraão.
Segundo, colocamos as críticas: a) Se Abraão e Sara formavam uma família nuclear com base no amor exclusivo, não podiam por nenhum motivo quebrar esse pacto, muito menos por justificativas tão mundanas quanto de passar uma herança; b) ao quebrar o pacto usou a divina ferramenta do sexo que o Criador nos deu para, sem amor, atingir apenas o objetivo da procriação; c) Não teve consideração com os sentimentos e objetivos da criada e chegou ao auge da expulsão da comunidade.
Terceiro, colocamos as alternativas: a) Abraão desejando ou concordando com a possibilidade de gerar um filho fora do casamento tradicional, mas mantendo o amor como base em qualquer circunstância, deveria antes disso reformular as condições do casamento, retirar dele a condição de exclusividade e que o amor com outra pessoa seria na base da inclusão, essa pessoa deveria fazer parte de sua família, que não seria mais nuclear, seria ampliada; b) A pessoa que é incluída na família dessa forma, por imperativos sexuais ou românticos, depois dela ter sido sensibilizada e sentir em seu coração o afeto suficiente para a empreitada, essa pessoa deve ser respeitada e amada por todos os membros da família e da comunidade; c) Deve haver honestidade e coragem para enfrentar os impulsos de exclusão que continuarão a existir, tanto dentro de cada um, como dentro da família, como dentro da comunidade e proteger a integridade física, psicológica e espiritual da pessoa que também, corajosamente, resolveu entrar nesse paradigma tão diferente do cultural. Jamais chegar ao auge da expulsão, como aconteceu!
São esses argumentos que coloco para o Deus único de todos nós, detentor da sabedoria final de todas as coisas, para que Ele seja o juiz dessa situação e coloque o Seu veredicto dentro dos nossos corações, na nossa consciência; que sejamos capazes de aprender com os erros cometidos para evitá-los no futuro e ter coragem para fazer o que é certo e não prejudicar a ninguém.