Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/09/2012 11h24
AUDITORIA ESPIRITUAL I – PERDÃO

            Logo que declarei a minha superioridade no campo do perdão, inclusive com o merecimento de uma medalha de ouro caso houvesse uma competição nesse sentido, sou colocado em teste. Considero o evento que aconteceu como uma auditoria da espiritualidade naquilo que eu disse com tanta confiança.

            Estava saindo do trabalho dirigindo meu carro novo, recém tirado da loja, quando paro no sinal e sou abalroado na traseira. Desligo o carro, desço com minha bata branca de médico e vou ver o que aconteceu. Era uma carroça cheia de lixo dirigida por dois meninos. Vejo que foi amassada a lataria. Pergunto cheio de raiva o que foi que aconteceu. O mais velho, por volta dos 14 anos, justifica que o burro é novo e ainda não está acostumado. Meus pensamentos incendiados pela raiva procuravam uma alternativa... não adiantava chamar os guardas de trânsito, aqueles meninos ou seus familiares não poderiam pagar o prejuízo; eu poderia causar algum prejuízo a eles também, cortar as correias do burro, rasgar os sacos do lixo... o ponto senso prevaleceu. Voltei para o carro ainda incendiado pela raiva e da impossibilidade de não ter podido fazer nada. Procurei acalmar os pensamentos e foi aí que chegou à memória do que eu escrevera há dois dias sobre o perdão. Avaliei de imediato que a medalha de ouro eu ainda não mereço. Em evento tão simples, sem grandes prejuízos materiais, sem nenhum dano físico, eu perco o controle de minhas emoções e deixo a raiva tomar conta dos meus pensamentos e comportamento, é porque eu tenho muito que aprender, inclusive não ser tão orgulhoso e deixar de lado a modéstia quando percebo facilidade em desenvolver determinada virtude. A medida que o tempo passava, essas reflexões tomavam conta dos meus pensamentos, os valores espirituais iam prevalecendo sobre os impulsos animais. Ainda fazia considerações sobre a situação difícil que a cidade atravessa, com lixo acumulado em todos os bairros, com buracos disseminados pelas ruas, impotência dos cidadãos em resolver a situação...

            Agora, 24 horas depois de ter passado o evento, não sinto mais aquela raiva que incendiava os meus pensamentos. Vejo a ocorrência como mais um fato da vida, não percebo sentimentos negativos a me incomodar. Posso dizer que agora perdoei aquelas crianças, ao prefeito por permitir tanto tráfego de carroças pela cidade e até o burro por não ser mais calmo no trânsito. Mas agora sei que ainda estou muito distante da medalha de ouro.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/09/2012 às 11h24
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