Não dei muita atenção até agora a esse sentimento, porém com a dificuldade que tenho de consolidar a caridade em minhas ações, percebo que a compaixão pode ajudar. Quando me deparo com a situação dos meninos que limpam para-brisas para ganhar moedinhas, sempre chega primeiro o sentimento de que vou ser ludibriado, talvez até extorquido. Aqueles menores usam drogas em quase totalidade, a minha pratinha vai colaborar com os traficantes e com a destruição daqueles que penso ajudar. Com isso na cabeça, aplicar a caridade no sentido de desconsiderar esses pensamentos é muito penoso. Porém, se eu olhar com compaixão aquelas pobres criaturas, que mesmo sendo drogados e esperam ajuda para desviar na manutenção dos seus vícios, a resistência que tenho ao meu ato de caridade fica mais atenuado. Não elimina por completo a resistência, pois o racional informa que há verdade nos meus pensamentos, que posso estar prejudicando mais do que ajudando.
A compaixão oferece outra alternativa de compreensão, para todos nós. Para eles, que nasceram em situação precária, sem educação, sem confiança na sobrevivência, sem oportunidade de trabalho... para mim, que alcancei uma posição invejável na vida, que agora posso dar uma pratinha e isso não fazer falta, que tenho conhecimento e educação suficiente para elaborar e viabilizar projetos que consigam mudar essa realidade. A compaixão ajuda a ser solidário com o outro, não na sua parte doente, e sim na parte sadia que perdida no abandono da vida espera que aconteça algo há cada dia que acorda e estende a mão a que se aproxima; a compaixão ajuda também no alívio de minha culpa que termina sendo gerada na consciência. Por que eu, que tenho tanto potencial acumulado de fazer o bem, não fiz até o momento algo significativo nesse sentido.