“Se a mãe nutre e ama seu filho carnal, quanto mais diligentemente não deve cada um amar e nutrir o seu irmão espiritual?”
Esta frase escrita por São Francisco (Fontes Franciscanas e Clareanas, Regra Bulada – pg.162) faz a ligação de duas formas de amar: o amor materno e o fraterno. O primeiro é de natureza biológica (filho carnal) e o segundo de natureza transcendental (irmão espiritual). Claro, no campo material onde nos relacionamos na atual fase de nossa vida, o amor materno é uma das maiores manifestações de amor e expressa de forma ampla na comunidade dos seres vivos, biológicos, principalmente os mamíferos. É uma questão de instintividade onde a expressão desse amor tem por objetivo a garantia de vida do ser que acaba de nascer. A mãe pode inclusive agir no sentido de prejudicar outros seres vivos, outros recém-nascidos, para garantir a segurança e o bem estar do seu filho.
Já o amor fraterno espiritual considera todos os seres vivos como originados do mesmo Pai, de Deus, do qual o homem é imagem e semelhança. Aqui não existe a possibilidade de um prejudicar o outro, mesmo que um seja mãe e desenvolva o amor materno, mas os limites de suas ações deverão estar limitadas pelo amor fraterno espiritual. Assim, a compreensão de São Francisco é que o amor espiritual seja observado e comparado em força ao amor materno, mas em essência deve este ser subordinado aquele. O amor espiritual não visa prejudicar ninguém, mesmo qu seja no favorecimento do próprio filho.
Este é um salto fenomenal onde o amor carnal, biológico (fraterno, materno, paterno, etc.), apesar de toda força que tem, deve ser subalterno ao amor espiritual. Jesus também ensinou isso ao ser avisado que sua mãe e irmãos estavam chegando. Ele no meio da reunião disse que “meus irmãos são aqueles que cumprem a vontade do Pai”. Mostrava assim, não que desprezasse seus parentes biológicos, mas que a hierarquia maior estava no amor espiritual.
No meu cotidiano também tento observar essa hierarquia. Tenho relação com meus parentes e pessoas com laços afetivos profundos, até a intimidade sexual. Com todas essas pessoas sinto que meu afeto é forte e que existe o sentido de proteção, orientação e cuidados de toda espécie. Mas reconheço a prioridade do amor espiritual que se espalha por todos e se manifesta na realidade do próximo, quem quer que seja ele. Jamais farei qualquer mal ao próximo para beneficiar qualquer membro de minha família, dos meus afetos, ou de mim mesmo. Esta é a minha intenção.