Apesar de não concordar com a instituição do casamento porque leva à prática do amor exclusivo e consequentemente a geração, manutenção e ampliação do egoísmo em todas as dimensões, tem um aspecto que acho pertinente, que é citado na própria Bíblia: “Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne” - Mateus 19,5.
É essa questão dos dois, homem e mulher se tornarem uma só carne. Como se os dois se tornassem uma só pessoa. É um tanto complicado, pois parece que isso implica na anulação de uma pessoa em função da outra. É claro que devemos respeitar a individualidade de cada pessoa, o seu livre arbítrio, mas essa integração de uma pessoa a outra eu acho fantástica, pois a partir daí os dois passam a funcionar, a agir com uma ótima sintonia em todos os aspectos. Essa condição eu acredito ser fundamental naquelas pessoas que desejam ampliar os relacionamentos íntimos em busca do Reino de Deus. Também acredito que temos que fazer uma faxina completa no psiquismo de natureza animal que contamina o nosso raciocínio de interesse espiritual. Então as lições do Cristo devem ser conhecidas, absorvidas e praticadas em toda a dimensão, só assim será possível essa união de corpos, pensamentos e ações.
Agora, quem será o líder dessa união? Pois é necessário haver uma hierarquia que seja respeitada, para evitar constantes conflitos por banalidades. As crítica que existirem no decorrer do relacionamento devem ser colocadas e discutidas dentro de clima de fraternidade, nada de imposições autoritárias, tudo será visto à luz da justiça e da solidariedade, tendo como constituição maior a Lei do Amor. Não importa que seja o homem ou a mulher que assuma essa liderança espiritual na condução da união. Importa que o líder seja aquele que melhor observar e cumprir a Lei do Amor, que tenha o menor nível de sentimentos negativos dentro do coração e que melhor se comporte dentro da coerência daquilo que praga e faz.
Entra nesse contexto a discutida forma de aplicar o amor: inclusivo ou exclusivo? Alguns podem defender com seus motivos a exclusividade do amor como é praticado no casamento tradicional e aceito por nossa cultura. Outros como eu, defenderão o amor inclusivo na forma de ampliar a família e se aproximar mais da Família Universal. As uniões podem ser formadas dentro de qualquer um desses paradigmas, ou de outros que também sejam defensáveis por argumentos fraternos, justos e solidários. No meu caso, cada companheira que se incorporar ao meu pensamento, para que seja considerada a união apontada pela Bíblia, deve se despir de todo o sentimento negativo, egoísta e vestir o traje espiritual, sem deixar qualquer nódoa de natureza animal na brancura do seu tecido. E qualquer uma outra pessoa que sinta o desejo de se incorporar a essa união, tanto pelo meu lado (nova namorada) como do lado dela (novo namorado) devem também demonstrar o mesmo sentimento de amor por todos os entes envolvidos no relacionamento. Isso não implica que, alguma pessoa que não consegue se livrar dos predicados egoístas, não participe dessa forma de relacionamento, mas não conseguirá fazer parte do corpo da união, por sua própria repulsa. Será sempre alguém que fica à margem do caminho enquanto a caravana parte, mesmo que jamais deixe de ser alvo do amor e da compaixão de quantos já estejam devidamente harmonizados na caravana.