Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
16/11/2012 00h59
RAIZ DO EGOÍSMO

            De todas as relações que praticamos, é a relação sexual a que mais tem o potencial de carrear a força do egoísmo. Posso até considerar ser a principal raiz egóica, um guarda-chuva que abriga tantos outros sentimentos: exclusivistas, individualistas, intolerantes, persecutórios...

            O sexo é a ferramenta biológica usada para a reprodução dos corpos. Sabemos, implícita ou explicitamente, que o corpo biológico terá continuidade no tempo através da geração dos filhos. Existe toda uma engenharia biológica (instintos, pulsões, racionalizações) no sentido de sexo ser realizado, e como prêmio experimentamos o prazer do orgasmo. Tudo começa quando encontramos outra pessoa e despertamos o desejo do sexo, uma simpatia que pode chegar à paixão. Essa força afetiva está dirigida em última análise à geração do filho, a continuidade da vida biológica, da permanência do ego, mesmo que associado com outro gen. É a própria sobrevivência do ego que está em jogo. Meu sucesso reprodutivo garante a sobrevivência do meu ego no jogo da vida. Dentro deste paradigma materialista qualquer outra pessoa que interfira com essa ação, que possa gerar um filho dela em lugar do meu, para mim constitui um imenso prejuízo. Daí todos os sentimentos exclusivista que surgem nas relações afetivas.

            Por outro lado, se desenvolvo o paradigma espiritual, agora o que mais importa não é a permanência do meu ego que está ligado à sobrevivência do corpo ao longo do tempo. É, sim, a evolução moral do meu espírito, com base no Amor Incondicional. Então, vou à busca de uma felicidade plena para mim e para meus semelhantes, o próximo, numa identidade com ele próxima do espelho, querer para ele o que desejo para mim. Continuo a ter os desejos sexuais, mas agora eles se adaptam ao amor inclusivo que é associado ao Amor Incondicional, e não mais ao amor exclusivo, romântico, que é associado ao egoísmo biológico.

            Essa mudança do paradigma material, família nuclear, exclusivista, para o paradigma espiritual, família universal, inclusivista, é uma condição dramática em nossa cultura de prevalência material. O reconhecimento de que isso deve ser viabilizado, pois senão o Reino de Deus como ensinado por Jesus e demais avatares não poderá ser constituído, se torna a principal motivação para quem percebe a responsabilidade e passa a desejar que aconteça essa evolução. E o ponto crucial para testar esse amadurecimento, de mudança de paradigma, é saber ou até ver seu companheiro(a) de jornada trocar afetos, inclusive sexuais com outra pessoa e não desenvolver sentimentos negativos, pelo contrário. Reconhecemos que o afeto de outra pessoa por nossa companheira é legítimo, pois também é fundamentado no Amor Incondicional, e essa pessoa passa a ter o potencial de ser incluído no núcleo de nossa família a qual pode se ampliar até o ponto desejado da família universal.

            Então, concluo o raciocínio de forma objetiva: o primeiro passo para a construção do Reino de Deus, não é fortalecer a família nuclear, exclusivista, geradora de toda forma de egoísmo; é criar e desenvolver a família ampliada, inclusivista, geradora de toda a fraternidade com o próximo, até mesmo cuidar dos gens dele em detrimento dos meus.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/11/2012 às 00h59
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