Hoje, domingo, dia que convida ao lazer com os amigos e parentes, principalmente. Como sempre é bom associar o aspecto espiritual aos comportamentos materiais, fizemos uma reunião de reflexão tendo como base um dos contos relacionados com a passagem de Jesus na terra e a evolução que Ele observou em um discípulo, até o ponto em que esse discípulo se equiparou ao Mestre. Depois da leitura e reflexão, pedi que cada um colocasse em uma palavra aquilo que mais desejava obter de Deus. foram citados a fé, união, perdão, servir, humildade, sabedoria. Eu, por caminhar por veredas tão criticadas por pessoas do meu mais íntimo círculo afetivo, pedi ao Pai a sabedoria para que eu pudesse discernir com segurança qual a vontade dEle com relação ao trabalho que devo fazer, para que eu não entre em atalhos que não tem nada a ver. Por outro lado, a pessoa que pediu o “servir” e defendeu a sua importância no cumprimento da vontade de Deus, deu demonstração de intolerância com relação a isso. Uma das nossas amigas adoeceu e foi acolhida na casa do nosso lazer. Essa pessoa logo fez críticas severas a esse comportamento, pois iria estragar o lazer de todos devido essa doença entre nós. Mas existia ainda um argumento forte que a protetora da amiga terminou usando para o convencimento do pensamento contrário. Que eu iria chegar para participar do lazer e na condição de médico eu poderia ajudar. Assim aconteceu. Ao chegar encontrei a amiga doente e vi que o remédio era insuficiente para conter sua crise. Foi necessário eu acompanhá-las até o hospital e fazer todos os procedimentos para uma conduta mais adequada e evitar o internamento, que era o desejo de todos, que o tratamento fosse realizado em sua própria residência.
Voltei para o lazer já na parte da tarde com tudo resolvido, mas já tínhamos perdido toda a manhã do nosso lazer, além do trabalho realizado para conter a crise de nossa amiga. Passei a fazer uma reflexão sobre essa ocorrência no grupo de nossos amigos, todos portadores de uma boa espiritualidade. A pessoa contrária a esse acolhimento que fizemos, é um profundo conhecedor da leitura bíblica, chega a citar capítulos e versículos para ilustrar seus posicionamentos. Também é uma pessoa que não se esquiva do trabalho e enquanto íamos ao hospital ele ficou na casa do lazer e podou árvores, fez limpeza, tirou cupins... tudo isso e não demonstrou nenhuma contrariedade, mas sim alegria pelo fato de poder ter servido. Então, por que tão forte resistência em não ajudar a amiga doente, já que este também seria uma forma de servir e até mais nobre, pois iria ajudar o semelhante? Ai, só me veio uma explicação: ele deve ter se sentido ameaçado pela demanda de um serviço que ele não tinha competência, não sabia como fazer e a quem recorrer, então a saída era se esquivar. Acredito que se ele tivesse o conhecimento que tenho, não existiria nenhuma resistência nele, como não existiu em mim. Veio a minha mente então mais uma constatação: a ignorância é uma espécie de cupim na estrutura de nossas virtudes e só podemos fazer a dedetização com o uso da verdade, tanto do mundo externo quanto do mundo interno.
E para terminar esse relato de um dia de lazer que trouxe tão forte oportunidade do servir ao próximo, transcrevo abaixo o pensamento de Thomas Merton que nos ajudará a fortalecer e preservar tão belo gesto:
“Não existimos para nós mesmos, como se fôssemos o centro do universo, e é somente quando estamos convencidos deste fato que começamos a amar a nós mesmos adequadamente e, assim, a amar aos outros. O que quero dizer com nos amarmos adequadamente? Quero dizer, em primeiro lugar, desejar viver, aceitar a vida como uma dádiva muito importante e um grande bem, não por causa do que ela nos dá, mas por causa do que nos permite dar aos outros.”