Não é que eu tenha tido a pretensão de querer ser um discípulo de perto de Jesus, mas confesso que lá no fundo de minhas aspirações, deve ser isso que eu quero atingir. Agora, lendo a história de Efraim e a sua pretensão de querer ser um discípulo próximo do Mestre, fiquei tão perplexo quanto e talvez até assustado. Pois vamos ver como se passou a história, assim como está escrita no livro “No Roteiro de Jesus”, pelo espírito Humberto de Campos (pseudônimo irmãoX) na psicografia de Chico Xavier:
Efraim, filho de Atad, tão logo soube que Jesus se rodeava de pequeno colégio de aprendizes diretos para a enunciação das Boas Novas, veio apressado em busca de informes precisos.
Divulgava-se a respeito do Messias toda sorte de comentários.
O povo se mantinha oprimido. Respirava-se em toda parte, o clima de dominação. E Jesus curava, consolava, bendizia... chegara a transformar água em vinho numa festa de casamento...
Não seria ele o príncipe esperado, com suficiente poder para redimir o povo de Deus? Certamente, ao fim do ministério público, dividiria cargos e prebendas, vantagens e despojos de subido valor.
Aconselhável, portanto, disputar-lhe a presença. Ser-lhe-ia discípulo chegado ao coração.
De cabeça inflamada em sonhos de grandeza terrestre, procurou o Senhor, que o recebeu com a bondade de sempre, embora tisnada de indefinível melancolia.
O Cristo havia entrado vitorioso em Jerusalém, mas achava-se possuído de manifesta angústia.
Profunda tristeza transbordava-lhe do olhar, adivinhando a flagelação e a cruz que se avizinhavam.
Sereno e afável, pediu a Efraim lhe abrisse o coração.
Senhor! – disse o rapaz, ardendo de idealismo – aceita-me por discípulo, quero seguir-te, igualmente, mas desejo um lugar mais próximo de teu peito compassivo!... Venho disputar-te o afeto, a companhia permanente!... Pretendo pertencer-te, de alma e coração...
Jesus sorriu e falou, calmo:
- Tenho muitos seguidores de longe; aspirarás porventura, à posição do discípulo de perto?
- Sim, Mestre! – exclamou o candidato, embriagado de esperança no poder humano. – Que fazer para conquistar semelhante glória?
O Divino Amigo, que lhe sondava os recônditos escaninhos da consciência, exclamou pausadamente:
- O aprendiz de longe pode crer e descrer, abordando a verdade e esquecendo-a, periodicamente, mas o discípulo de perto empenhará a própria vida na execução da Divina Vontade, permanecendo, dia e noite, no monte da decisão.
“O seguidor de longe provavelmente entreter-se-á com muitos obstáculos a lhe roubarem a atenção, mas o companheiro de perto viverá em suprema vigilância.
“O de longe sente-se com liberdade para buscar honrarias e prazeres, misturando-as com as suas vagas esperanças no Reino de Deus, mas o de perto sofrerá as angústias do serviço sacrificial e incessante.
“O de longe alegará dificuldades para concentrar-se na oração, experimentará sono e fadiga; o de perto,k, contudo, inquietar-se-á pela solução dos trabalhos e caminhará sem cansaço, em constante vigília.
“O de longe respirará em estradas floridas, demorando-se na jornada quanto deseje; o de perto, porém, muita vez seguirá comigo pelo atalho espinhoso.
“O de longe dar-se-á pressa em possuir; o de perto, no entanto, encontrará o prazer de dar sem recompensa.
“O de longe somente encontra alegria na prosperidade material; o de perto descobre a divina lição do sofrimento.
“O de longe padecerá muitos melindres; o de perto encher-se-á de fortaleza para perdoar sempre e recomeçar o esforço do bem, quantas vezes se fizerem necessárias.
“O de longe não cooperará sem honras; o de perto servirá com humildade, obscuro e feliz.
“O de longe adiará os seus testemunhos de fé e amor perante o Pai; o de perto, entretanto, estará pronto a aceitar o martírio, em obediência aos Celestes Designios, a qualquer momento”.
Após longa pausa, fixou em Efraim os olhos doces e indagou:
- Aceitarás, mesmo assim?
O candidato algo confundido, refletiu, refletiu e exclamou:
- Senhor, os teus ensinos me deslumbram!... Vou à Casa de Deus agradecer ao Santo dos Santos e volto, dentro de uma hora, afim de abraçar-te o sublime apostolado, sob juramento!...
Jesus aceitou-lhe o amplexo efusivo e ruidoso, despediu-se dele, sorrindo, mas Efraim, filho de Atad, nunca mais voltou.
Não é que eu tenha a mesma ambição de Efraim hoje, mas amanhã... não sei! Pelo desejo que tenho hoje de aperfeiçoar o meu comportamento, tendo por base o comportamento de Cristo, imagino que essa proximidade seja real. Então tenho receio, pelas palavras do Cristo imagino que eu esteja como o discípulo de longe e para me tornar um discípulo de perto muito teste ainda tenho que superar. Será que conseguirei?