Ninguém duvida da importância do trabalho para conquistarmos o direito de alimentar o corpo e assim sobreviver. Existem diversos tipos de trabalho e no meu caso quero ressaltar um que me tira da proximidade das pessoas que tenho convivência íntima: o plantão. Sempre que vou para o hospital em função de um plantão, fico 6, 12 ou mesmo 24 horas longe das pessoas que amo com mais profundidade devido os laços de intimidade. Todas entendem essa necessidade, ninguém fica chateada, ressentida, porque coloco parte do meu tempo no acolhimento com outras pessoas, ajudando de forma técnica e procurando amar cada um como a mim mesmo. Todas entendem que este tempo gasto nessa atividade é o que vai proporcionar alimento para o meu corpo e para os meus dependentes. Longe de me criticarem por causa disso, todas me elogiam, que eu não sou preguiçoso, que sou trabalhador, e dessa forma alimentam mais ainda o meu amor por mim.
Por outro lado, sei da importância do mundo e da vida espiritual. Sei que minha passagem pelo mundo da matéria é fugaz, um simples momento de aprendizagem, nada mais! A verdadeira vida é desenvolvida no plano espiritual para onde voltarei após a falência deste meu corpo físico. Portanto, o alimento do corpo é importante, porque garante que meu instrumento material por onde o meu espírito se qualifica, se mantém em boas condições de operacionalidade. Mas, o mais importante é que eu consiga o alimento espiritual para a minha alma, este é o objetivo maior. A maior fonte de alimento para a alma é o amor. Amor este dirigido para Deus em primeiro plano, como arquiteto do universo e Criador de toda a Natureza e criaturas. Em segundo plano para mim mesmo, reconhecendo o meu corpo e meu espírito como elementos que seguem o meu livre arbítrio na direção do que eu considero como mais importante. Em terceiro plano o próximo no qual eu vejo também a presença de Deus que deve ser amado tanto quanto eu. Nessa relação com o próximo pode surgir o interesse tanto material (reprodutivo) quanto espiritual (evolução afetiva e moral) de uma integração maior, de um nível de intimidade que pode chegar ao máximo na troca de fluidos, na relação sexual. Eis a fonte do alimento para a alma, em qualquer um dos três níveis.
No entanto, observo um grande paradoxo: enquanto todas entendem o meu afastamento para adquirir o alimento para o corpo, ninguém entende o meu afastamento para eu adquirir o alimento para minha alma. Caso eu esteja num plantão todas entendem o meu afastamento e não se incomodam por estar só; caso eu esteja num encontro afetivo com outra pessoa, ninguém que esteja só entende o meu afastamento. Onde estará a raiz desse paradoxo? No plantão quem está só entende que o meu afastamento é para que eu tenha recursos para garantir a sobrevivência física, inclusive dela que está a distância; no encontro afetivo quem está só pensa que está abandonada e que o meu afeto vai ser com exclusividade de outra pessoa. Eis aí a raiz do paradoxo! Como explicar a quem fica só, que a minha alma está se alimentando, que eu estou me fortalecendo com a luz do amor, e que esse resultado também será benéfico para ela que está distante? Como explicar a quem fica só, que esse amor que alimenta minha alma vem através de outra pessoa, mas sua fonte é divina, vem do próprio Deus? Mesmo que tenha um aspecto animal, instintivo, de romantismo, de sexualidade? Alguém acreditará que o amor incondicional que vem do próprio Deus é superior a qualquer outra forma de amor, por mais forte que seja como o amor romântico que pode levar a uma paixão avassaladora? Eu acredito, eu sinto isso, eu pratico isso!
Então, estou em outro patamar de compreensão e de condução da vida quando comparado com a maioria das pessoas, inclusive muitas altamente espiritualizadas. Não quero dizer que sou o dono da verdade e que todas as pessoas que pensam diferente estão erradas. O que quero dizer é que a minha consciência, onde se encontra a Lei de Deus, entende que a vida se procede dessa maneira e que devo realmente priorizar o alimento da alma em detrimento do material. O alimento do corpo é o meio, o alimento da alma é o fim. Não posso direcionar meu comportamento para os meios e sim para o fim. Foi este o objetivo da minha vinda para esta nova encarnação que estou vivenciando. Caso eu abandone minha posição racional de alimento da alma, e passe a praticar apenas ou priorizar as ações que apenas alimentem o corpo, eu não cumprirei minhas obrigações espirituais que devo ter assumido ao reencarnar. Além do mais, se eu desse a prioridade de minhas ações ao alimento material, com certeza ninguém faria tanto esforço para ficar comigo com exclusividade, pois veria que minhas ações seriam apenas para garantir a minha satisfação material e com certeza os prazeres do corpo eu iria encontrar com muito mais abundância em qualquer local desse mundo material. Seria uma pessoa mais jovem, uma bunda maior, um seio mais esculpido, uma pessoa mais rica, e por aí vai. Ninguém se sentiria tão confortável ao meu lado como se sentem agora, quando o meu foco é o alimento espiritual e no qual todos os seres são considerados, principalmente quem tem ou teve um relacionamento íntimo comigo.
Mas, reconheço, conviver comigo que tenho um foco no alimento espiritual, enquanto a pessoa tem um foco ainda forte no alimento material, gera um conflito com potencial devastador para quem não está suficientemente espiritualizada. Tenho o exemplo da minha primeira companheira e da segunda também. Esta última até hoje não consegue me encarar e olhar nos olhos, tamanha é a decepção que ela tem comigo e do ressentimento do que ela poderia ter e que eu nunca poderia ou poderei dar: a exclusividade do meu amor. Tenho que ser cuidadoso nesse aspecto e não deixar muito perto de mim pessoas que sofrem tanto quando estou alimentando o meu espírito com outras pessoas.
Por fim, peço a Deus a sabedoria necessária para entender com segurança a Sua Lei do amor, que eu reconheça os meus erros e que tenha coragem de corrigi-los o mais breve possível; que eu consiga aconselhar e orientar comportamentos e sentimentos das pessoas que me amam tanto e que me querem com tanta exclusividade. Que eu tenha a firmeza de manter o meu comportamento e condições de vida dentro dos padrões exigidos pelo Pai para que eu consiga fazer valer a Sua vontade, não a minha e nem a vontade de quem me acompanha nesta jornada atual da vida.