Acredito que o exemplo de São Francisco de Assis seja pontual, para mostrar a possibilidade de viver com extrema pobreza e humildade. Caso o seu exemplo servisse de modelo a toda humanidade, a nossa civilização sofreria um grande retrocesso. Posso estar enganado, mas veja o que está escrito no Capítulo XIX da Biografia primeira de Celano, do livro Fontes Franciscanas e Clareanas:
“51 ... Com todo empenho, com toda solicitude, guardava a senhora santa pobreza, não permitindo, para não chegar a ter coisas supérfluas, que houvesse em casa sequer um pequeno vaso, pois que mesmo sem ele poderia fugir da escravidão da extrema necessidade. Dizia, pois, que era impossível satisfazer à necessidade e não se tornar escravo do prazer. – Difícil ou rarissimamente admitia alimentos cozidos e, quando admitidos, muitas vezes, ou os condimentava com cinza ou extinguia o sabor do condimento com água fria. 52 ...E quando, como acontece, despertava nele o apetite de comer alguma coisa, dificilmente consentia em comê-la. Aconteceu uma vez que, enfraquecido pela enfermidade, depois de ter comido um bocado de carne de frango, tendo retomado de algum modo as forças do corpo, entrou na cidade de Assis. E depois que chegou à porta da cidade, ordenou a um irmão que estava com ele que lhe amarrasse uma corda ao pescoço e assim o arrastasse como a um ladrão por toda a cidade, clamando e dizendo com voz de arauto: Eis, vede o glutão que se engordou com carnes de galinha, que ele comeu, estando vós a ignorar. 53 ...Tornara-se para si mesmo como um vaso perdido; sem estar onerado por nenhum temor, por nenhuma preocupação com o corpo, expunha-o valorosamente aos maus tratos para não ser forçado a desejar algo temporal por amor de si próprio. Verdadeiro desprezador de si, instruía de modo útil pela palavra e pelo exemplo a desprezarem-se também a si mesmos.”
Como fazer desse um modelo para a humanidade? Serve como exemplo de que podemos controlar nossos impulsos tanto os sociais como os fisiológicos de forma extrema e mesmo assim sobreviver. Respeito o amor que ele tinha pela Natureza em todos os seus aspectos, materiais e biológicos, mas não posso aceitar tanto desprezo pelo corpo e seus mecanismos que também são dádivas de Deus para conosco. Devo sim, aprender a conviver com esses instintos e os colocar a serviço da vontade Deus pela operacionalização do organismo, mas não subjugá-lo às raias de destruição.