Os exemplos ao nosso redor de pessoas vivas ou que já partiram, mas deixaram seus escritos, são importantes fontes de motivação e de comparação com o que já fazemos ou que desejamos fazer. Irei procurar fazer essa comparação ao longo deste ano, acredito que assim terei oportunidade de aprender mais sobre pessoas que também foram atraídas e caminharam em direção ao Pai, cada um com a sua forma individual e personalista de caminhar.
O primeiro a ser listado é São Basílio Magno, bispo de Cesaréia da Capadócia, atual Kayseri na Turquia. Falei acima da forma individual, personalista de caminhar que identifica cada um, mas São Basílio tinha um amigo íntimo, outro santo, São Gregório Nazianzeno e estão juntos no calendário litúrgico por terem as mesmas aspirações a santidade, os mesmos níveis culturais, a mesma chama de vocação. Acontece de encontrarmos pessoas com uma forma de caminhar muito parecida com a nossa, mas até hoje eu não consegui encontrar pessoa com a minha forma de caminhar para o Pai, mas sinto que a essência que todos os caminhantes da estrada divina exalam é semelhante a minha, a do amor incondicional e todos os seus derivativos.
São Basílio participou do Concílio de Constantinopla em 360 convocado pelo Imperador romano Constâncio II para resolver o cisma ocorrido no Concílio de Selêucia em 358 sobre a natureza da divindade de Jesus que dividia a igreja. Basílio se juntou aos homoousianos que defendiam que o filho é da mesma substância do Pai, ou seja, ambos são não-criados, o que prevaleceu sobre a tese de Ário de que se o Pai gerou o filho, ele que foi criado teve um início na sua existência. Daí é evidente que houve um tempo em que o Filho não existia. Segue necessariamente que sua substância veio do nada.
O que importa mais é que São Basílio tinha como tema preferido a caridade concreta: ajudar aos irmãos necessitados. Dirigia-se a um interlocutor imaginário: “A quem fiz injustiça conservando o que é meu? Diz você. Diga-me sinceramente, o que lhe pertence? De quem o recebeu? Se cada um se contentasse com o necessário e desse aos pobres o supérfluo, não haveria nem ricos nem pobres.” Ele não se contentava com palavras. Às portas da cidade de Cesaréia deu vida a um verdadeiro reino da caridade com hospícios, refúgios, hospitais, laboratórios e escolas artesanais.
Denunciava os exploradores dos pobres e numa das suas famosas homílias disse: “Conheceis as ruínas imensas que dominam a nossa cidade. Em que época foram erguidos esses castelos que hoje estão destruídos? Não sei. Sei, entretanto, que havia muitos pobres naquele tempo. Em lugar de socorrê-los os ricos preferiram gastar seu dinheiro nessas construções malucas. Mas o tempo soprou sobre essas pedras ciclópicas, derrubando-as como brinquedos de crianças, enquanto seus donos gemem no inferno...”
Em outra ocasião, comentando as vivendas luxuosas daquele tempo, dizia: “Que prazer tu sentes, em contemplar tuas poltronas de marfim, tuas mesas de prata e teus leitos de ouro, quando milhares de famintos pedem esmola junto à tua porta?... dirás talvez: eu não posso socorrer tanta gente. Eu te respondo: o pão que te sobra na mesa, pertence ao faminto; a roupa que não estás usando, é do pobre desnudo; o dinheiro que esbanjas, é a riqueza do pobre.”
Interessante, eu com tanto conhecimento acadêmico e até espiritual, trabalho como médico e professor dentro de um Hospital, sou o responsável por uma disciplina chamada Medicina, Saúde e Espiritualidade, até hoje não sabia da importância de São Basílio no meu campo de trabalho, que ele foi o pioneiro dos hospitais, das vilas dos pobres, dos abrigos e dos artesanatos.
Agora, se eu tivesse participado do Concílio de Constantinopla, eu não iria votar na opinião dele e sim na de Ário. Eu não colocaria a substância de Jesus semelhante a de Deus.
Mas a caridade concreta que ele implementou é fantástica. Sintonizo plenamente com o seu pensamento nesse aspecto, só que não consigo colocar em prática como ele fez. Trabalho num hospital que é cercado por um cinturão de pobreza que chega às raias da miséria. Tenho até planos de fazer uma associação, um projeto e criar condições de ajudar aquela comunidade, mas o tempo nunca é suficiente, sempre estou envolvido com outras atividades. Mas o seu exemplo serve como alavanca motivadora,, um dia sairei dessa inércia prática!