O livro de Inácio Larrañaga, “O irmão de Assis”, fala do rompimento de relações que aconteceu entre São Francisco e o seu pai, Bernardone, da seguinte forma:
Fazia tempo que o velho Bernardone carregava uma ferida que ainda sangrava: a volta repentina e vergonhosa do rapaz quando chegou a Espoleto na expedição para a Apúlia.
Um tipo arrogante não pode assimilar uma coisa dessas, e começa a transpirar ressentimento e rancor pela ferida. Por outro lado, não se teria importado se o rapaz tivesse gastado o dinheiro com os companheiros nobres. Afinal isso era uma satisfação para sua vaidade. Mas reparti-lo, a mãos cheias, com os indigentes da rua era demais.
Depois, já fazia meses que o rapaz, perdido na solidão dos bosques e das montanhas, não prestava serviço algum ao negócio de tecidos. E o que mais torturava o rico mercador era que o rapaz constituía uma profunda frustração para os sonhos de grandeza que justamente tinha depositado nele.
É difícil imaginar, mesmo teoricamente, dois polos tão distantes e tão opostos. E Bernardone, espírito de comerciante, era absolutamente incapaz de compreender os novos rumos do jovem sonhador. A situação estava cada dia mais insuportável e tinha de arrebentar por algum lado.
Esse relato feito de acontecimentos há cerca de 800 anos, mostra ainda sua atualidade. Não que seja os casos de forma semelhante tal qual se passou em Assis, mas existem em vários pontos do planeta pessoas sonhadoras que se chocam violentamente com o desejo dos pais. Tenho vivido isso em minha vida e vejo isso acontecer ao meu redor. Caso não tenhamos a firme convicção do que queremos e força para colocar em prática, terminamos por assumir na vida os interesses de terceiros e não nossos. Que o exemplo de Francisco, com toda sua força de convicções, sirva de exemplo para nós, que também sonhamos e que desejamos realizar o que construímos no coração.