Nicodemos é um exemplo dentro da Bíblia de alguém que busca sinceramente pela verdade. Ele estava preparado para deixar de lado a apatia, o preconceito, o medo e buscar a verdade com espírito honesto e humilde.
Jesus deve ter impressionado Nicodemos ao dizer-lhe que deveria nascer de novo, pois caso contrário, não veria o Reino de Deus, nem entraria nele. Caso Jesus tivesse me dito isso hoje, com o conhecimento que tenho, talvez eu não ficasse tão impressionado como Nicodemos. Tenho diversas teorias na minha cabeça que poderiam encontrar uma explicação para essa afirmação. O pensamento mais imediatista era que a pessoa deveria ser submetida a um novo nascimento, da mesma forma que o primeiro. Foi assim que Nicodemos pensou, pois como era possível o homem voltar ao ventre da sua mãe, retrucava ele.
Com os conhecimentos espíritas que adquiri eu poderia pensar que Jesus queria se referir à reencarnação, pois é o processo natural que os espíritos tem à sua disposição para se aperfeiçoarem ao longo do tempo. Reencarnamos aqui na terra quantas vezes for necessário, geralmente mantendo um nível de relacionamento afetivo com algum grupo de natureza familiar. Mas acredito que também não era a isso que Jesus se referia, pois o espírito pode reencarnar diversas vezes, passar pelo processo de nascimento concomitantemente, sem no entanto atingir o “nascer de novo” que Jesus referia.
Esse nascer de novo é a mudança de paradigma consciencial. É o reconhecimento de que existe o mundo espiritual, que existe o Criador ao qual devemos obediência e devemos fazer a Sua vontade. Que Jesus Cristo é o Seu mais importante enviado para nos ensinar essas lições e assim devemos nos arrepender dos erros cometidos e procurar daí em diante fazer a vontade de Deus, que em última análise é criar o Reino do Céu aqui na terra. Essa mudança de consciência, dos valores do mundo material para os valores espirituais é que corresponde esse “nascer de novo”. É um parto na consciência.
O batismo com a água é o sinal ou sacramento do novo nascimento. Era isso que João Batista fazia; é isso que é feito ainda hoje, principalmente com as crianças. Mas não devemos confundir o sinal externo com a coisa interna que ele representa. O batismo é uma dramatização pública visível do novo nascimento, mas não devemos confundir o sinal externo com a coisa interna que ele representa.
Meu nascimento físico atual foi um processo difícil. Fui o primogênito de minha mãe e até hoje tenho as marcas dos dedos da parteira em minha cabeça, no esforço que ela fez para me trazer à luz. Depois fui batizado quando criança e não tenho a mínima memória desse acontecimento. Então não considero que eu tenha nascido de novo naquele momento do batismo. Isso aconteceu muito tempo depois, já estava adulto e cheio de dúvidas na minha cabeça sobre a existência do mundo espiritual e do Criador. Frequentava diversas religiões e lia diversos livros de todas as religiões e livros científicos também. Até que, considerando a grande verdade embutida nos ensinamentos de Jesus, resolvi afastar a dúvida da minha mente a aceitar como verdadeiro todos os ensinamentos divinos, da existência de um mundo transcendental e da necessidade de uma evolução moral que caminha associada a evolução material que se processa na natureza. Foi aí que considero o meu nascer de novo. Foi aí que aceitei a Lei do amor como fundamento dos meus relacionamentos e que assim eu estaria contribuindo para a formação do Reino de Deus, como ensinado por Jesus.
Cada vez que eu entro no chuveiro pela manhã, antes de sair para o trabalho, aproveito para orar para o Pai e me sinto ainda no processo de parto para o mundo espiritual. A água corre pelo meu corpo e eu imagino que está a lavar os pecados que cometi e que ainda estão à espreita de minhas fraquezas para eles se manifestarem. Do mesmo modo que meu nascimento biológico foi trabalhoso e que me deixou marcas até hoje, assim também o nascer de novo espiritual também é trabalhoso e certamente por minha falta de competência deixo marcas tanto em mim quanto nas pessoas que estão perto de mim e que se envolvem afetivamente. Mas sei que esse processo de nascer de novo agora está numa fase irreversível, já me considero também cidadão do mundo espiritual, convocado por Jesus e obreiro do Senhor na criação do seu Reino.