Olhando para o retrato que tenho pregado na parede do meu apartamento, com a idade aproximada de 6 meses, onde estou despido, sentado numa cadeira forrada por lençóis, com um sapatinho com meia, uma medalha de um santo no pescoço, acredito de
São Francisco, já que fui prometido a ele devido ameaça de morte ao nascer, da dificuldade de atravessar o canal do parto. Estou com a aparência de surpresa, olhando para um lugar à distância, um pouco à direita, com a mão esquerda em posição de executar alguma ação, enquanto a direita se firmava no apoio da cadeira.
Interessante e o que chamou mais a minha atenção foi essa posição da mão. Acabo de postar no meu site no Recanto das Letras e no Facebook, uma foto que tinha tirado há algum tempo e que ficara armazenada no notebook sem maiores pretensões. Encontrei semana passada essa foto por acaso e resolvi substituir minha foto antiga por essa. Agora, vendo a foto do tempo de criança, vejo a similaridade que tem uma com a outra, respeitando as devidas transformações causadas pelo tempo, tanto na biologia quanto nos pensamentos e sentimentos.
É uma fase da vida colocada em um dos polos, o nascimento (estava com 6 meses); hoje estou me dirigindo para o polo oposto, a morte (estou com 60 anos). Naquela época a inocência predominava, era meu o Reino dos Céus, como Jesus ensinou. Ao longo da vida a força do egoísmo entranhada na biologia dominou o meu corpo e pensamentos e perdi a condição de permanecer nesse Reino. Agora que já estou me aproximando do polo seguinte da vida, procuro adquirir a inocência perdida aprendendo a sabedoria dos livros sagrados e dos Mestres instrutores, como Jesus Cristo. Quero vencer o monstro do egoísmo.
Ontem eu tirava essa foto despido, sem nenhuma preocupação, sem nenhum preconceito; hoje eu vou a uma praia de nudismo, fico despido e tento vencer o preconceito que se instalou em minha consciência. A criança de ontem olha o mundo ao seu redor com surpresa e quer alcançar algo que sua consciência despertou; o homem de hoje olha os contornos de uma cidade moderna, de uma selva de pedras, escurecida nas sombras da noite. Esse homem tem a cabeça nas estrelas e com a mesma mão esquerda procura alcançar ou abençoar aquelas estruturas que sabe fervilhar de seres humanos.
Procuro mais uma vez ter a condição de viver no Reino de Deus e agora com a compreensão adicional que devo usar os recursos da inteligência que o Pai me deu para ajudar cada um dos meus irmãos menos esclarecidos, mergulhados na ignorância, para que possam corrigir seus defeitos e encontrar o caminho coletivo onde o Pai nos espera.