Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
29/01/2013 15h59
OFERTAS DO SENHOR

            A experiência mística de Francisco de Assis é muito forte. Desde sua abdicação da vida material, do nome dos pais, do conforto e respeito que tinha na cidade, por uma compreensão da vontade de Deus que veio na sua mente. Recebeu como uma missão de vida imitar os passos do Mestre Jesus na senda da pobreza, caridade e humildade. Foi exemplo para diversos outros jovens, de sua cidade, do seu país e do mundo. O que me impressiona é a sua capacidade de aceitar os diversos martírios que Deus lhe proporcionava, principalmente o martírio da alma a fogo lento. Ele sabia de suas deficiências e a sensação de fracasso o atormentava. A impressão de incapacidade o crucificava. Volta e meia tinha a consciência de ser um pecador. Com que cara poderia apresentar-se ao mundo falando de amor, se o amor não reinava em sua própria casa? Como poderia transmitir uma mensagem de paz, se a paz não se aninhava em sua alma?

            Sentia um desejo profundo de voltar para os eremitérios a fim de viver acocorado aos pés de Deus, podendo recuperar a paz por completo. Mas o Senhor tinha lhe dado um povo de irmãos. Ele não os havia escolhido, como Jesus escolheu os apóstolos. Simplesmente aceitara-os das mãos de Deus como oferta. Aceitara-os como eram, com seus defeitos e qualidades. Não podia abandonar esse povo, porque seria como abandonar o próprio Senhor!

            Fico a imaginar a proximidade e a distância que tenho do Irmão de Assis. Proximidade por sentir que Deus pode colocar Sua vontade em nossos pensamentos, por sentir que Ele já fez isso em minha mente. Tenho hoje um caminho a seguir, bem definido sobre o que tenho de fazer. Não sei aonde irei chegar, assim como Francisco, só sei que é isso que Ele quer que eu faça, e o farei. Isso é o que me aproxima de Francisco de Assis. Agora, eu sei que não tenho a resistência que ele tinha de se auto anular completamente e se tornar o menor entre os menores, o mais humilde, o mais despojado, para mostrar ao mundo que a influência do materialismo em todas suas dimensões não tinha poder sobre ele. Tenho uma preocupação significativa de manter um padrão de vida confortável, com recursos suficientes para garantir uma boa estabilidade financeira. Mas tenho a compreensão que tudo pertence a Deus e ele me permite que eu tenha esses recursos materiais, mas com a responsabilidade da solidariedade entre os irmãos, entre o próximo.

            Agora, o que me deixa mais pensativo é com respeito as ofertas do Senhor, no sentido de colocar os irmãos ao seu lado para exercerem o companheirismo na estrada que ele determinou. Começo a perceber com clareza cada vez maior que Ele fez o mesmo comigo. Determinou a estrada que eu deveria percorrer e fez as ofertas das pessoas que deveriam partilhar comigo dos espinhos da estrada. Como Francisco, as recebi como se apresentaram, com seus defeitos e qualidades. Tem também uma diferença básica, para Francisco os companheiros mais importantes para a finalidade da jornada, eram todos homens. Até Clara, companheira de alta sintonia espiritual, ficou sempre afastada em outros ambientes. Para mim, o Senhor determinou a tarefa de mostrar ao mundo que é possível privilegiar o Amor Incondicional frente a qualquer outra força que se oponha, principalmente a força do Amor Romântico, que na forma de paixão pode destruir e construir mundos. Assim, ofertou sempre mulheres para essa operacionalização, mulheres que sempre chegam carregadas de amor romântico, que o desenvolvem até o nível da paixão e que me colocam em cheque no embate da exclusividade que elas exigem e da inclusividade que faz parte da natureza da minha missão. Quando li que Francisco não podia abandonar os irmãos que Deus lhe ofertou, pois isso seria como abandonar o próprio Deus, senti uma forte sintonia no meu coração, pois também sinto que não posso abandonar nenhuma das irmãs que Deus me ofertou. Mesmo que antes eu não tivesse a ideia que Francisco me deu, que eu estaria abandonando o próprio Deus.

            Quando fiz todas essas considerações, na minha mente surgiu um forte sentimento de plenitude, como se eu tivesse recebido mensagem do próprio Deus. As lágrimas corriam e do meu coração surgia o desejo de louvar, dos meus lábios saiam palavras entrecortadas pela emoção. Quando acalmei um pouco, peguei no celular e mandei para todas minhas companheiras uma mensagem sobre um pouco desse momento, mesmo correndo o risco de ser considerado por algumas, como isso ser sinal de loucura, mas esse risco Francisco também correu, e pelo menos nesse simples aspecto eu posso ter a coragem que ele teve:

Eu tenho a Graça do Pai...

Recebo a Graça do Pai...

Agradeço ao Pai toda honra

De ser o seu escolhido

Para instrumento da sua vontade

Eu tenho a Graça do Pai...

Publicado por Sióstio de Lapa
em 29/01/2013 às 15h59
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