Podemos entender a existência de dois desertos: um deserto físico e um deserto espiritual. No tempo de Jesus Ele foi para um deserto físico e vivia cercado de um deserto de ignorância da verdade, da justiça e do amor incondicional.
No Evangelho de Marcos, 1:12-15, diz que “Naquele tempo, o Espírito levou Jesus para o deserto, onde ficou durante quarenta dias, e foi tentado por Satanás.” Jesus tinha apenas acabado de ser batizado no rio Jordão por João Batista, recebeu a investidura messiânica, quando se ouviu a voz do Pai: “Este é o meu filho muito amado, escutai-o.” Foi enviado para anunciar a Boa Nova a todos, curar os corações feridos e pregar o Reino de Deus. Antes, porém, Ele jejuou, rezou, meditou, lutou, em profunda solidão e silêncio.
Reconheço que o Pai quando diz “Este é o meu filho muito amado” vem uma ponta de ciúme em meu coração. Afinal eu também não sou o seu filho e também não posso ser muito amado? Mas logo minha consciência faz as devidas correções: “Você também é considerado por sua mãe como o filho muito amado. Todos os seus irmãos tem inveja dessa condição. Mas porque isso é assim. Você é um filho obediente, demonstra carinho e interesse pelo bem estar de todos, jamais disse em resposta a uma advertência uma palavra grosseira. Comparado aos seus irmãos você tem uma estatura moral superior, justifica que o coração de sua mãe com justiça o considere o muito amado. Da mesma forma é Jesus com relação ao Pai. De todos os filhos existentes no mundo, Jesus é aquele mais obediente e disposto a fazer a Sua vontade, mesmo que fazendo assim sacrifique a própria vida. Tenho que reconhecer que não tenho ainda essa competência de Jesus, devo reconhecer que Ele merece ser o muito amado filho de meu Pai em comparação a todos nós, seus irmãos.
Meus irmãos absorveram esse julgamento que minha mãe fez sobre mim, me respeitam e seguem minha orientação. Devo também seguir esse exemplo. Devo reconhecer a autoridade moral que Jesus possui e seguir suas orientações, mesmo que o Pai tenha me dado alguma tarefa específica, com certeza será um complemento daquilo que foi ensinado por Jesus.
Esse tempo da Quaresma é propício para essas reflexões e mesmo não sendo possível ir ao deserto físico para ter a experiência que Jesus teve, posso reproduzir em minha mente o deserto espiritual e passar por experiências parecidas.