Estou entrando num padrão satisfatório na vida no deserto. Equilibrei minhas obrigações materiais, de trabalho e de relacionamentos profissionais ou sociais sem festa, com o dever espiritual do clima da Quaresma. Hoje fiquei o dia inteiro de jejum, sem comer uma simples balinha. Sinto que satisfiz a expectativa do Pai, sinto que ele até me recompensou em alguns momentos, diferente do sábado quando eu senti o peso de seu castigo, na forma das consequências do que eu fiz. Chego cedo em casa vindo direto do trabalho, sento no tapete da sala e fico rodeado de livros que escolhi para ler nesse período, todos de cunho espiritual, que me orientem, confortem, motivem. É pena que eu tenha que dormir, queria aproveitar a noite toda madrugada a dentro sem tirar nenhum cochilo. Acontece que quando forço para fazer isso, nãoconsigo, a mente apaga e durmo em qualquer lugar, no sofá, no tapete, no puf, na cadeira de trabalhar... raramente me destino dormir na cama, e quando isso acontece é para dormir pouco tempo, deitar de 5 horas e levantar de 6 horas, por exemplo. Sei que o meu ritmo de funcionar está fora dos critérios fisiológicos, principalmente no que diz respeito ao sono e a alimentação. Recebo críticas sobre isso, mas não posso entrar no comportamento regular que todos procura seguir. Tenho consciência imortalidade da alma e que meu estágio aqui na terra é para aprender e ensinar lições que produzem nossa evolução, saber lidar com as exigências e necessidade do corpo é a grande lição. Vivo cercado de estímulos os mais diversos, a grande maioria dirigida aos prazeres dos sentidos corporais, ligados a manutenção do corpo físico e a preservação da espécie.
Esta sensação de satisfação, de harmonia com as exigências espirituais que se confrontam com as necessidades materiais, é como um exercício salutar para o espírito que esse período da Quaresma oferece. Espero que essa sensação de rotina se espalhe para o período fora da Quaresma, quando será incluída de volta todas as relações afetivas com todas suas demandas de intolerância e de exclusividade para com os outros. Espero voltar com toda a sabedoria que este atual momento está me proporcionando, apesar do sofrimento que é o afastamento afetivo das pessoas que amamos. Pelo menos sinto um grande avanço: a comunicação com o Pai e com o Mestre Jesus está mais satisfatória. Já encontro as palavras para falar com ambos com naturalidade, afinal, são Eles que estão afetivamente comigo neste deserto.