Pensava que esse meu tipo de deserto no qual entrei, não iria me deparar com tempestades como acontece no deserto físico. Hoje eu comprovei que estava errado. Na exata metade do meu período no deserto me deparei com uma forte tempestade emocional que tem um grande paralelo com as tempestades de areia do deserto. Nessas tempestades o caminhante interrompe sua jornada e fica deitado ao lado de seu camelo, coberto com suas roupas, até a borrasca passar. Mas estou sozinho, nenhum animal pode aliviar o peso dessa pressão.
Dentro do conceito de família universal incluo todas as pessoas com as quais me envolvi, e continuo me envolvendo de forma intimista, isto é, com afeto, sem barreiras preconceituosas e possibilidade de sexualidade plena. Acredito que, se Deus fez essa permissão para o encontro com o despertar dos sentimentos e instintos disciplinados pelo amor incondicional, é porque Ele quer a inclusão nessa família ampliada que se espalhará para a universal dessa pessoa.
Pois bem, surgiu agora justamente nesse período uma pessoa do meu passado pela qual desenvolvi forte paixão e que hoje, casada e com uma filha de 6 anos, precisa de minha ajuda. Não vacilei, conversei com o seu marido e com a sua irmã e me coloquei como um parente real. Ela está envolta em sérias dificuldades emocionais, com risco da sua própria vida e da sua pequena filha. Mas a minha ajuda se torna eficaz através de pessoas que junto comigo partilham esse mesmo sentimento de fraternidade. As pessoas mais próximas se mostram incapazes de oferecer a ajuda necessária, cada uma tem suas dificuldades que também reconheço. Mas uma solução tem que ser encontrada, e ai começou a tempestade emocional em minha mente que tentava levar de roldão minhas intenções, o sentido de minha missão, a vontade de Deus... Ora, é tão mais fácil deixar esse problema de lado, não tenho mais nenhum pingo de paixão por ela, já está casada com outra pessoa, por que então tanto gasto de energia? Nos padrões humanos isso é totalmente compreensível e eu seria muito bondoso dando algum dinheiro para ajudar financeiramente. Mas não é isso que o Pai quer, sinto em minha consciência que Ele espera que eu faça o que me proponho a cumprir, desde que inicio um relacionamento com alguém e com o forte desejo sexual, que chega até a vir na forma de paixão, como foi o caso dela.
Fiquei de dar uma solução até as 22 horas, mas não consegui. De última hora falhou a estratégia que parecia mais conveniente. Sai da reunião e fui deixar minhas três companheiras em suas respectivas casas Cheguei no apartamento, o centro do meu deserto, por volta das 23 horas, com aspecto derrotado. Até um sentimento de injustiça chegava à minha consciência: o porquê de algumas companheiras terem contato comigo neste deserto e outras não? O porque de perder tanto tempo nessas viagens podendo estar fazendo trabalhos no apartamento? Lembrava até do momento na Padaria, quando não resisti e tomei uma sopa de carne, quebrando parcialmente o jejum! Sentia a areia do deserto cair sobre mim e me soterrar. Sentia que falhava frente ao Pai. O jejum que estava sustentando precariamente, agora desabou por completo. Fritei ovo, assei queijo e comi até me fartar. Para completar a preguiça me atacou e não fiz qualquer coisa mais, não produzi nada! Fiquei realmente soterrado nas minhas areias emocionais e dormi como um cadáver sem reação,que nem lembrava que era filho de Deus, com um trabalho a realizar, e que Ele está sempre disposto a ajudar.
Agora estou aqui no trabalho e lembro-me de tudo, envergonhado do Pai e de quem ler esse relato. Vou postar atrasadíssimo... e tentar recompor minhas ideias e intenções... continuo sentindo que o Pai espera por mim... que perdoa minhas fraquezas... e eu tento me convencer que mereço o auto-perdão.