Que pretensão a nossa querer determinar quais os caminhos corretos a seguir... podemos ter uma noção, pela lógica ou intuição, qual o caminho mais apropriado em determinada circunstância, mas sempre devemos ficar atento para as exigências do Senhor e isso pode implicar em mudanças de rota previamente estabelecidas.
Foi em determinado momento no início da Quaresma, em função de conflitos de relacionamentos que eu percebia não ser coerente com a vontade do Pai, e como Ele já havia determinado uma missão para eu realizar que necessitava comportamentos coerentes, decidi entrar num deserto parecido com aquele de Jesus. Só que com Jesus, o deserto era físico totalmente. O meu deserto tem mais uma natureza psicológica, onde o principal impacto ocorreu a nível do meu apartamento que considero um espaço divino e que não pode caber dentro dele nenhum comportamento egoísta, seja de qual natureza for. Então nesse período nenhuma pessoa dos meus relacionamentos devia o frequentar. Eu deveria ficar sozinho nesse espaço e aproveitar o momento para impulsionar meu contato com o Pai e com o divino Mestre. Também existia outras consequências a nível de relacionamento com as pessoas em geral, principalmente as mais próximas. Eu previa um distanciamento radical de todos meus afetos, até mesmo na possibilidade de encontros. Mas acontece que Deus tinha outros planos e me bombardeou de provas para ver o que prevalecia, se era a minha intenção inicial de um isolamento tão radical, ou eu atenderia as necessidades extras que surgissem e que me colocasse em teste no cumprimento de sua vontade. Enfim, Ele quer saber se eu tenho uma fé circunstancial ou uma fé no cumprimento de Sua divina vontade: amar ao próximo como a si mesmo!
Neste dia as estruturas da minha missão, da família ampliada, do projeto de família universal foi abalado. A pessoa querida que mora no interior com seu marido e filhinha de 6 anos, chegou a Natal precisando de ajuda. Eu não poderia permanecer no deserto e ficar alheio a tudo. Devia ajudar, e principalmente, me envolver. Como eu não poderia dar a ajuda que ela precisava por completo, de um lugar para ficar, de remédios para tomar, de uma pessoa para acompanhar, eu fiz o possível e pedi ajuda a quem esta mais próximo de mim. Arranjei o lugar para ficar e arranjei os remédios, mas não podia ficar com ela. Todos os meus contatos mais próximos foram acionados. Eu sentia que Deus não provava somente a mim e sim a todos que se aproximaram do problema. Não fiquei ressentido com o vacilo de alguns, a rejeição de outros... eu não sabia como iria terminar, sabia que eu tinha iniciado o movimento de ajuda, de solidariedade em função do clima familiar, de apoio incondicional. Percebi que os caminhos era o Senhor que construía através do toque no coração de cada pessoa e na capacidade que a pessoa tinha de responder a esse toque. Percebi que até o meu deserto aqui fora é um contexto totalmente fora do que eu imaginava. Pensei que até o centro do deserto, o meu apartamento, poderia ser ocupado por pessoas em função de um bem maior, de ajudar ao próximo, de uma vontade divina e da qual a minha vontade particular é subordinada.
Agora eu sei, continuo no meu deserto emocional, mas sei que estou submetido a vontade de Deus e quantas vezes Ele me provoque no sentido de servir, de ajudar o próximo, eu direi presente. Afinal, o teste real não é permanecer no deserto, o teste real é cumprir a vontade do Pai e para isso somos testados a cada momento.