Este é o aspecto mais contraditório que eu encontro nos livros sagrados, principalmente a Bíblia. No Velho Testamento tem o exemplo de José que tinha um lugar de destaque no coração de seu pai e nos planos de Deus estava destinado a posição de supremacia. Mas teve que enfrentar a ira de seus irmãos, sem outro motivo a não ser o amor que ele sabia expressar sem participar de injustiças. No Novo Testamento tem o exemplo de Jesus a quem Deus destinou o lugar de planetário e que chegou na terra na condição de embaixador do amor. É o mesmo homem que iria ser odiado por suas criaturas, que iria sofrer tremendo ódio. Por que o coração humano odiou tanto a Cristo? Será que havia algo de errado com Ele? Certamente que não, pois em Cristo não havia qualquer traço de crueldade, violência, ironia, orgulho, arrogância, ou outra coisa que provocasse o ódio das pessoas. Em Cristo só havia amor. Enquanto outros faziam o mal, Ele só fazia o bem. Enquanto outros amaldiçoavam e escarneciam, de Sua boca só saíam palavras graciosas. Apesar de todos os atos de amor, das palavras de graça, das curas e milagres, o povo o recompensou com mal e ódio. De fato Ele podia exclamar: “Odiaram-me sem causa” (João 15:25).
Próximo de nossa contemporaneidade, temos dois exemplos marcantes: Gandhi e Luther King. O primeiro na Índia e o segundo nos Estados Unidos, ambos só falavam do amor e da não-violência, mas ambos foram assassinados pela expressão do ódio.
Tenho também comigo esse receio dramático e já passo por essas experiências a nível doméstico, de sofrer a força do ódio sobre mim, mesmo eu levando apenas o amor por onde vou. Chega ao ponto do amor que pessoas desenvolviam por mim se transformarem em ódio. Que poderoso feitiço é esse que nem o Mestre conseguiu evitar? Tenho somente uma explicação para esse fato. O amor que as pessoas desenvolvem não é o amor incondicional, a característica de Deus. Desenvolve um amor condicionado a qualquer aspecto da vida material, dos instintos. É o amor que a mãe tem por seu filho e condiciona a fazer a vontade dela e qualquer outra perspectiva diferente é capaz de desencadear o ódio; é o amor que uma pessoa tem por outra e que se transforma em característica romântica, que quer a exclusividade do relacionamento e qualquer outra emoção afetiva desenvolvida por outra pessoa é visto como sinal de traição e dispara de imediato os mecanismos do ódio. Sempre vamos encontrar nessa geração do ódio, a interferência do amor nos interesses materiais, individualistas, qualquer que seja a forma.
Para evitar que o amor atraia o ódio, não é tarefa do amante incondicional... é tarefa do amante condicional, ver quais são as condicionais do seu amor, verificar a natureza egoísta que geralmente estar por trás e combater os instintos que são os que os representa nas diversas formas de relacionamento. Cada um deve fazer essa introspecção para dentro do seu coração e retirar de forma lenta e dolorosa esses elementos. A esse trabalho se dá o nome de Reforma Íntima e é o maior procedimento que cada pessoa deve fazer para se capacitar a ser um cidadão do reino de Deus.