Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
24/03/2013 11h50
MINHA CEGUEIRA

            Dizem que a luz intensa do deserto, o sol inclemente, a poeira que fustiga, podem cegar um homem. Eu tenho a minha experiência.

            Hoje estou no 39º dia do meu deserto mental, o último domingo da quaresma, domingo de Ramos, da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Também estou prestes a sair do meu deserto mental e entrar no mundo de forma integral, como antes, com todos os relacionamentos em atividade. Ao arrancar a folhinha para o dia de hoje, que anuncia o domingo de Ramos, vejo também uma mensagem que diz: “Eu vos digo que, se eles se calarem, as pedras gritarão.” Não diz quem é o autor, nem qual o contexto, mas acredito que foi dita por Jesus aos seus apóstolos.

            Este deserto mental deixou minha visão mais aguçada as coisas do espírito, de não ficar envolvido pelas malhas do egoísmo e ficar com dificuldade de expressar a vontade do Pai. Por outro lado, pode ter me deixado mais cego as coisas profanas, nesse sentido se aproxima da experiência real do deserto. Mas será que tudo não se equipara? Se eu estivesse no deserto real a minha visão fisiológica iria sofrer e até cegar, mas com certeza iria também adquirir mais brilho espiritual. Assim é como sucede no meu deserto mental. As coisas mundanas foram um tanto eclipsadas e passei ver com mais clareza as coisas do espírito.

            Descobri a minha melhor forma de conversar com Deus, por incrível que pareça, um método muito diferente dos convencionais métodos de meditação, principalmente quando se quer estabelecer contato com a divindade. Esse método é o exercício físico associado com dança e acompanhado por músicas espirituais, com letras ou instrumentais. É de imediato a conexão, logo me sinto tomado pela influencia do Criador, que enche os meus pensamentos e sentimentos e fazem as lágrimas correrem sem vergonha. Sou colocado a ouvir suas mensagens através das letras das canções e provocado a responder com minhas convicções mais profundas. Tenho que ter ao lado um papel para deixar os tópicos de cada ensinamento, de cada intuição, de cada ordem que Ele me dar. Sinto em alguns momentos o meu corpo frenético no exercício físico, mas não sinto o cansaço, sinto apenas o suor correr pelo corpo e as lágrimas pelo rosto. É uma experiência fantástica que nenhum tipo de droga pode oferecer, acredito, já que nunca usei droga. Mas pelo que meus pacientes relatam, jamais chegam perto dessa experiência. Vejo em tudo ao redor um significado especial, em tudo vejo o projeto de Deus se desenvolvendo, vejo também o meu lugar nessa harmonia do cosmo e como contribuir para a afinação de sua harmonia.

            Perdi muito da minha cegueira espiritual nestes dias do deserto e espero que amanhã, quando estiver saindo, mantenha esta capacidade visual, que eu continuo vendo todos os sinais que o Pai coloca ao meu alcance, para que eu possa pensar, sentir e agir de acordo com Sua vontade.

            Que este domingo de Ramos, que é festejado como a entrada triunfal do Filho muito amado de Deus em Jerusalém, há mais de 2 mil anos, sirva como exemplo para mim entrar na minha Jerusalém, minha Natal querida, interpretando cada olhar de um irmão, cada aperto de mão, cada abraço, cada beijo... cada expressão de raiva ou ódio, como os Ramos que foram estendidos para o Divino Mestre, pelas pessoas que o aclamaram e que mais tarde o crucificaram.

            Peço ao Mestre a firmeza que Ele teve, de aceitar os arroubos de bênçãos e de alegria, e os ímpetos de raiva e maldição com a mesma serenidade de quem sabe que está fazendo a vontade do Pai.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 24/03/2013 às 11h50
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