Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
06/04/2013 23h59
RECOMPENSA E CASTIGO

            Registrei ontem uma recompensa que o Pai me deu por ter me comportado bem, dentro da sua lei. Mas deixei de comentar um castigo que ele também me deu no mesmo momento. Quando fui até a portaria do prédio resolver a questão da chave que já estava em meu poder, bati com a cabeça na parte superior da passagem que comunica a garagem do prédio com o posto da vigilância. Foi uma dor forte que cheguei a pensar que havia ferido a cabeça. Felizmente não havia quina nessa estrutura de cimento, não chegou a ferir a cabeça nem trouxe maiores consequências. Mas a dor que ficou sinalizava um castigo aplicado. Agora, castigo de que?

Após muito rebuscar na lembrança onde estava o comportamento que causou o castigo, encontrei um evento que pode justificar. Também estou no momento com um ente querido que necessita da minha ajuda e principalmente da ajuda profissional. Consegui vencer os entraves burocráticos e lhe deixei internada no hospital onde trabalho, num ambiente privilegiado, distante dos pacientes mais desorganizados mentalmente e com uma maior privacidade. Mas, como ela não aceita o tratamento, fez de tudo para sair do hospital até que consegui de forma incorreta, em um final de semana que foi autorizada a sair e que não voltou conforme o combinado. Nesse intervalo de tempo em que ela ficou fora do hospital, sendo rejeitada pelos parentes, e sem querer voltar a internação, todos faziam críticas ao seu comportamento, inclusive eu!

            Pronto, esse é o ponto! De todos que faziam o coro de elencar o comportamento negativo da necessitada, eu sou o púnico que detém o saber técnico e acredito que seja o que estou mais adiantado nas lições evangélicas e que procuro as colocar em prática na sua essência. Não poderia me envolver nessas críticas e julgamentos negativos de forma tão acintosa, sem considerar o lado dela, apesar da doença. O filho de Deus que quer se tornar o seu bem amado através da aplicação correta de Sua vontade, que aceita a condição de discípulo de Jesus que é o filho bem amado do Pai e que nos deixou instruções claras de como proceder, não pode esquecer de sua responsabilidade e se aproximar do campo da maledicência. Por que eu não resgatava da minha memória o comportamento positivo que ela apresentava? Por que não realçava o valor positivo de querer cuidar da filha apesar dos riscos que sua doença não deixava enxergar? Por que não considerar a queixa de negligência que ela sofrera dos pais, talvez abuso, como forma de querer agora uma compensação da forma equivocada que a doença sugere? Por que não mostrar que o desejo dela por segurança, por amparo, por acolhida é próprio de cada um de nós, só que a doença deixa essa preocupação a beira de um ato insano que ela não percebe? Por que não mostrar a dignidade que ela apresentou comigo, quando na fase em que eu estava apaixonado por ela, e que propus termos um filho, até mesmo para ela ficar amparada com os recursos que por lei ela teria direito de administrar, ela recusou, pois queria ter um filho com a pessoa que tivesse disponibilidade e pensasse em viver com ela e o filho com exclusividade?

            Sei que todas essas e mais algumas outras informações que afloraram na minha consciência foram avivadas pela interferência do Pai, e mostrava para mim as minhas falhas na condução desse problema que Ele colocou nas minhas mãos. Eu tenho que lembrar sempre de uma lição importante: registrar os fatos ruins de um relacionamento na areia para que o primeiro vento da madrugada os apague, e registrar os bons no mármore da memória, para que em qualquer momento eu possa os acionar. Então, eu não registrei o que ela fez de bom comigo e com quem estava ao seu redor? E porque agora eu não usei essas informações em seu benefício?

            Vi assim que foi bem merecido o “cascudo” que recebi do Pai. Amanhã combinei de ir falar com ela na casa da prima, onde ela continua abrigada. Já disse que iria na condição de amigo, de uma pessoa da minha família ampliada, não mais como médico que exige um comportamento coerente dos seus pacientes. Dobrarei o orgulho do médico dentro de mim e deixarei vir a tona o afeto de um amigo, de um pai, de um irmão, como assim é caracterizado o amor incondicional, que pode vestir a capa de qualquer forma de amor em benefício do próximo e jamais de si mesmo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 06/04/2013 às 23h59
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.