É uma das condições do amante incondicional, aquele que está matriculado na escola do Cristo, que não tem compromisso com os preconceitos humanos e sim com a Lei do Criador: ser um guerreiro do bem contra o mal.
A minha lição prática diária, de aplicar o amor incondicional em todas minhas relações, vai de confronto ao mal que permeia a sociedade. Sinto que pertenço às forças do bem, junto com pessoas que também se posicionam na sociedade e cada um com o poder que as circunstâncias e o esforço individual lhe ofereceram passam a exercer o confronto com o mal. Sei que minha posição é de humildade, não tenho o poder que um Papa, por exemplo, possui, cujas palavras tem repercussão imediata por todo o mundo.
Mas reconheço com humildade a minha posição na sociedade e tento ser o soldado competente que aspira um dia ser general nessa guerra fundamental para a formação do Reino de Deus. Temos que aplainar o coração dos perversos com a luz do amor, da compaixão, e até da tolerância. O soldado de Deus não faz a guerra convencional, com as armas convencionais, espadas, baionetas, canhões, obuses e bombas atômicas. O soldado do bem usa a estratégia de Gandhi na Índia, a não violência.
Assim é que procuro extinguir com incessante atenção todos os pensamentos inferiores que me são sugeridos. Quando entro em contato com pessoas interessadas na maledicência, procuro me retrair de forma cortês. Se acaso me fazem alguma questão direta sobre a vítima ausente, procuro lembrar alguma pequena virtude que ela apresente. Se alguém chega perto de mim, encolerizado, considero a ira como enfermidade digna de tratamento e permaneço quieto, se não consigo encontrar forma de atenuar tamanho ódio. Se dirigem insultos contra mim, faço todo o esforço para ser preenchido todo meu corpo com a essência do amor, para que a cada golpe que me atinja deixe nas mão do meu agressor a fragrância do bem, pois além de não reagir, trato o meu ofensor com a fraternidade que me é habitual. A calúnia não tem acesso à minha alma, pois cada denúncia torpe se perde inútil, no meu grande silêncio e tolerância. Se vejo ameaças à tranquilidade de alguém, tento desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumam feição tempestuosa. Se alguma sentença condenatória injusta ameaça ao próximo, mobilizo de forma espontânea todas as possibilidades ao seu alcance na sua defesa delicada e imperceptível. Procuro chegar ao máximo de zelo contra a incursão do mal, que penso em retirar pedras da via pública ou até espantar um animal deitado na pista para que não ofereça perigo aos transeuntes ou motoristas.
Todos esses itens compõem o meu arsenal na guerra ao mal, que devo caminhar com ele entoando a canção de São Francisco. Mas isso não significa que eu consiga levar sempre comigo esse arsenal e faça uso dele. Ainda está nas minhas intenções. Lembro que há alguns dias escapei de um acidente na estrada à noite, porque tinha um animal deitado na pista. Se eu estivesse usando o meu arsenal de guerra ao mal, eu teria parado e espantado o animal para longe da pista. Só fui lembrar-me de fazer isso quando já estava distante e não quis voltar para concertar a negligência. No outro dia soube que um rapaz que dirigia sua moto fora acidentado naquela mesma estrada por ter batido num animal. Pergunto: de quem foi a culpa frente ao tribunal de Deus? Se eu tivesse sido condenado pelo tribunal humano passaria alguns dias na cadeia por não cumprir o meu dever. A punição que o Pai dá tem outro sentido, tem outro formato. Coloca na minha consciência um excesso de responsabilidade para que nunca mais tal fato eu negligencie. Enche meu coração de amor e dar o comando para eu o distribuir de forma incondicional, às custas do meu próprio conforto e segurança. Acredito que esta forma de justiça seja mais eficiente, pois assim eu tenho chance de recuperar a minha alma permanecendo na trincheira da luta contra o mal.