Finalmente terminei de ler “O Irmão de Assis”, a vida de São Francisco de Assis, segundo Inácio Larranaga. O homem que elegeu a Pobreza como sua companheira, sua esposa, que amava todas as criaturas do Pai, que procurou seguir o exemplo de Cristo até o desenvolvimento de suas chagas, que nos deixou palavras como as que foi título do texto de ontem: “O silêncio é a linguagem do amor.”
Observei em vários momentos um radicalismo extremo em função de sua determinação em ser humilde e conviver na intimidade com a Pobreza, a sua caminhada na trilha que o Senhor colocou em sua consciência. Cada um de nós temos a semente do Criador, o amor, em nossos corações e recebemos a missão que devemos cumprir na terra de acordo com nossas características fisiológicas, psicológicas e o contexto sócio-cultural que estamos inseridos. Então, cada um pode aprender com o exemplo dos irmãos, mas jamais podemos aplicar as suas atitudes em todos os momentos, pois somos por natureza diferentes e recebemos do Pai missões que também não são idênticas. Temos sim, que manter a coerência nas ações e na absorção dos ensinamentos ao nosso alcance, que sejam úteis para a nossa própria caminhada.
É dessa forma que hoje faço essa reflexão mais ampla do comportamento e da lição que o Irmão de Assis deixou para nós. Ontem eu concordei com ele sobre o silêncio ser a linguagem do amor. Continuo ainda acreditando nisso, pois Deus nunca falou comigo e apesar disso eu sei que Ele é a principal fonte de Amor e que a todo momento com Ele posso me abastecer e com Ele também aprendo a distribuir o Amor. Mas, respeitando a nossa condição humana, tão distante da condição angélica que um dia iremos atingir, vejo também a necessidade do verbo. Afinal foi com o verbo que Deus criou o universo. O silêncio dá a força disseminadora do Amor para todo o universo, onde existir uma consciência que consegue decodificar os afetos, em qualquer ponto desse imenso universo. O verbo torna-se necessário para o fortalecimento do Amor dentro das relações de tempo e espaço que temos durante a caminhada. O Irmão de Assis não destacou esse detalhe, mas foi importante tudo o que ele disse aos seus pais, seus amigos, a Clara, aos seus conterrâneos de Assis e ao mundo inteiro. Foram suas palavras associadas aos seus atos que deram a grande lição para todos nós e que se disseminam pelos séculos. Assim fica a lição para mim, que o meu silêncio sirva com a linguagem apropriada para levar o meu amor as partes mais distantes deste universo, principalmente dentro do contexto da minha vida. Mas também, que o verbo apropriado, que as palavras certas que traduzem a linguagem do coração possam ser proferidas nos momentos necessários e que sejam suficientes para atenuar o temor que possa nos atingir a alma.