Após meses sem chover, finalmente vejo cair as gotas límpidas na janela do meu apartamento. Estava esperando o irmão sol nascer, mas quem veio na frente foi a irmã chuva. Veio na companhia do irmão vento e suas vozes se faziam ouvir completando o coro com o som do irmão mar que mais longe ficava.
A maresia que embotava os vidros da minha janela, logo foram limpos pela constância das gotas da chuva. Tinha agora uma visão mais clara da Natureza ao meu redor. Parei para fazer a oração de Abril.
Agora a chuva parou. O sol já chegou com força e tive que fechar a janela e ligar o ventilador. Lembro da oração que acabei de fazer e que já publiquei neste Recanto das Letras. Procurava a sintonia com o Pai, a chuva me auxiliava a evocar pensamentos divinos. Mas o monstro que habita dentro de nós nunca dorme, mesmo que fique quieto, pois sabe que não cumpriremos seus desejos egoístas e nocivos a terceiros, ele nunca dorme. Mesmo que eu durma. Foi o que aconteceu. Em plena oração ao Pai, cochilei. Nesse cochilo me veio um sonho. Poderia colocar na caixa preta, é algo muito pessoal, mas também é algo muito instrutivo. Serve de lição para mim e quem tiver oportunidade de ler essas experiências.
Nesse sonho que se passou durante cerca de 20 minutos ou menos, no qual cochilei, orando para Deus, quero deixar isso bem explícito, surgia uma moça que era minha aluna na Universidade, mas que não consegui distinguir a identidade. Era uma moça bonita. Ficava comigo na cama com o objetivo de aprender algo que não lembro o que era. Nossos movimentos eram respeitosos, apesar de mais adiante ela estar sem roupas. Eu a tocava de início sem pretensões, sabia que a estava tocando, sabia que esses toques podiam despertar desejos dentro dela. Não percebia da parte dela nenhuma resistência. Passei então a acariciar seu corpo, minhas mãos deslizavam por suas pernas, chegavam perto da genitália, percebia seu monte de Vênus devidamente depilado, sentia a umidade que vinha do seu interior e que sinalizava a carga de desejos que ela também estava possuindo naquele momento. Senti que era o momento de eu penetrá-la com o meu desejo que também estava a mil. Deixei meu corpo cair sobre o dela e sem nenhuma resistência ela abriu as pernas para me receber. Procurei a beijar, mas notei que seus olhos não expressavam o desejo que sua carne demonstrava. É como se tivesse recebendo apenas o fruto do meu desejo e que o dela não se manifestava. Mesmo assim eu prosseguia, o meu desejo permitia que eu realizasse toda a penetração, que sentisse todas as ações do ato sexual. Percebia também que no interior do corpo dela não existia tanta lubrificação quanto eu tinha percebido no exterior. Foi então nesse estado de coisas que eu voltei a realidade. Despertei do cochilo, mas estava com os efeitos da excitação sexual em meu corpo. Percebi que eu estava rezando para o Pai e que me acontecera isso. Agora eu poderia voltar a oração e pedir perdão ao Pai pelo que aconteceu, afinal não fora minha vontade.
Mas o desejo agora se confrontava com essa determinação de orar ao Pai. Se eu voltasse a oração, sabia que o desejo iria se dissipar, e eu queria experimentar o prazer que o desejo sinalizava que viria. Então, a minha vontade se aliou ao desejo. Deixei a obrigação de fazer a oração depois de obter o prazer, o Pai iria me entender, afinal Ele sabe que sou um fraco. Com essas argumentações internas entrei no ato da masturbação. Voltei a lembrar do sonho e da garota que o patrocinou. Achei estranho que essa garota não fosse identificada. Tinha traços de uma antiga atendente que trabalhou comigo na Casa de Saúde e também de uma atual residente. Mas nada definitivo com relação a uma identificação. Sabia apenas que era uma estudante de medicina e que estava comigo numa missão de aprendizagem. Voltei a lembrar dos nossos movimentos, do nosso comportamento. Era isso que mantinha alto o nível do desejo. Mesmo que não houvesse uma correspondência afetiva, não havia troca de beijos, seus olhos não sintonizavam com os meus, mas sua carne servia de pasto para os meus desejos. Eu conseguia fazer essas considerações, mas o desejo imperava e não me fez parar até a consumação do prazer. Fiz ao final uma reflexão, tanto esforço, tanto compromisso perdido com o Pai, apenas para experimentar uma fração de minutos de prazer!? Uma coisa tão fugaz e deixo de obter outro prazer que seria muito mais amplo e eterno? Mas já fazia essas considerações depois do ato consumado.
Voltei então para terminar a oração. Claro, qualquer pai mundano iria ficar revoltadíssimo com meu comportamento, mesmo fazendo tudo isso consciente ainda tinha a petulância de chegar perto dele e pedir um perdão por algo que eu sabia que não era certo. Mas não senti qualquer revolta do Pai. Senti apenas o Seu “olhar carinhoso e compreensivo” sobre minhas faltas e minhas fraquezas. Que acredita nas minhas intenções de fazer o que é certo em todas as dimensões e que um dia eu alcançarei a condição de também ser um filho dEle muito amado.
Isto me envergonha, é claro, seria muito mais confortável deixar tamanho tropeço em minha caixa preta. Mas faz parte de minha missão ser transparente, de ser condutor da plena verdade em minhas comunicações, quando isso disser respeito a mim, não implicar outras pessoas, trouxer consequências reativas somente contra mim e não contra terceiros.
É importante que as pessoas saibam que por trás da aparência de pessoa tão evoluída no campo espiritual que aparento ser, existe uma alma com tantas fraquezas, que precisa tanto ainda da compaixão do Pai e da compreensão e tolerância de todos que dividem a vida comigo, principalmente daqueles que estão mais próximos.