O salmista já escrevia em 118 25-40: Prostrada no pó está a minha alma: restituí-me a vida conforme Vossa promessa. Eu Vos exponho a minha vida, para que me atendais: ensinai-me as Vossas leis. Mostrai-me os caminhos de Vossos preceitos, e meditarei em Vossas maravilhas. Chora de tristeza a minha alma; reconfortai-me segundo Vossa promessa. Afastai-me do caminho da mentira, e fazei-me fiel à Vossa lei. Escolhi o caminho da verdade, impus-me os Vossos decretos, apego-me as Vossas ordens, Senhor. Não permitais que eu seja confundido. Correrei pelo caminho de Vossos mandamentos, porque Sois Vós que dilatais meu coração. Mostrai-me, Senhor, o caminho de Vossas leis, para que eu nele permaneça com fidelidade. Ensinai-me a observar a Vossa lei e a guardá-la de todo o coração. Conduzi-me pelas sendas de Vossas leis, porque nelas estão minhas delícias. Inclinai-me o coração às Vossas ordens e não para a avareza. Não permitais que os meus olhos vejam a vaidade, fazei-me viver em Vossos caminhos. Cumpri a promessa para com Vosso servo, que fizestes àqueles que Vos temem. Afastai de mim a vergonha que receio, pois são agradáveis os Vossos decretos. Anseio pelos Vossos preceitos; dai-me que viva segundo Vossa justiça. (Biblia Sagrada, Ed. Ave-Maria ltda.).
Diz também Lucas de forma complementar, na Parábola do Filho Pródigo, em 15 18-20: Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu, e movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. (Bíblia Sagrada, Ed. Ave-Maria ltda.).
São dois exemplos que mostram como os caminhos que Deus tem para nós podem ser desviados a qualquer momento, por quaisquer motivos. O salmista se sente derrotado, mas implora a Deus a misericórdia para ser recuperado, pede como uma criança desamparada, para que seja posto novamente no caminho. No segundo exemplo, Jesus ensina que por motivos que pensamos ser justos, entramos em outro caminho, mas depois de reconhecido o erro e arrependido, o pai nos acolhe com compaixão.
No meu caso, pareço ser extremamente severo comigo mesmo, conforme o olhar de meus amigos, das pessoas que me amam. Todos sabem da minha dedicação a Deus, de procurar seguir o caminho que Ele colocou na minha consciência. Sabem do trabalho que executo nos dois campos, material e espiritual e julgam que não estou em débito com o Pai e que mereço descanso, férias e lazer de vez em quando. Mas a minha consciência não consegue aceitar esse tipo de lazer, de férias, dissociados da vontade de Deus, é como se eu tivesse saído da trilha. Sei que é importante o lazer e o descanso do corpo, mas sei também que o corpo é o instrumento que Deus me deu para fazer aqui no mundo material a sua vontade. Então por que me empanturrar com comida, bebida (mesmo que seja refrigerantes, sorvetes ou gelo), sexo (mesmo que seja em pensamentos, carícias e olhares lascivos), com a preguiça (mesmo que tenha dentro dela o sono necessário ao descanso do corpo), com jogos e diálogos sem sintonia com o divino...? Sei que ao usar a palavra “empanturrar” para caracterizar toda essa listagem posso estar sendo muito severo comigo mesmo e até incriminando os meus irmãos que dividem comigo essa jornada. A eles peço desculpas, pois sei que só o bem desejam para todos nós, principalmente prá mim, e nenhum mal para quem quer que seja. Eu agradeço ao Pai por ter colocado todos eles em minha vida e toda essa crítica que faço é comigo mesmo, e em nenhum momento implica em querer colocar culpa em ninguém. Pelo contrário, é necessário até pedir perdão a eles por desenvolver esse sentimento de culpa devido um dia tão agradável que eles me proporcionaram.
Mas a minha prestação de contas é com o Pai. Eu sei o quanto Ele investiu em mim, desde a minha mais tenra formação, de criança criada dentro de um cabaré até chegar a um alto nível universitário com tanto conhecimento sobre a matéria e sobre a Sua existência, Suas leis e a minha obrigação enquanto filho! É por isso, por sentir que tanto me foi dado, que sinto que devo ser MUITO COBRADO! Não é justo que tanto investimento que o Pai tenha feito em mim, seja desperdiçado por comportamentos, mesmo que não perversos, mas inócuos frente ao trabalho que o Pai necessita que seja feito e com o qual já me comprometi de consciência livre.