Tem momentos que fico a refletir no modo de vida que passei a ter depois que decidi implementar o modo de vida que Deus pediu. Mas Ele nunca falou comigo, logo posso imaginar que tudo não passa de uma atividade delirante da minha mente. Fiquei muito tempo procurando me situar dentro dessa vontade de Deus, entrei e sai de igrejas, convertido ou não, mas sempre com a indagação no olhar e a mente excitada a vasculhar pelos livros. Cheguei a cogitar que isso era uma busca inútil, que esse Deus que eu procurava não existia, que nunca existiu. Usava a minha mente freneticamente para tentar desvendar esse mistério...
Senti que essa minha procura era a procura pela vontade de Deus, pela realidade desse fenômeno... uma procura pela Verdade. Mas isso me parecia uma tarefa hercúlea. Encontrar a verdade de um pensamento, da vontade de Deus, de Deus...é claro que minha consciência dizia que eu jamais iria encontrar um resultado que eu pudesse sentar e observá-lo bem a minha frente. Essa não era a natureza da minha procura. Eu devia então procurar de forma indireta, devia procurar pelos frutos do meu pensamento, do trabalho, da minha forma de agir. Se esses frutos fossem bons, então eu poderia considerar que a árvore de onde eles provem, a minha vontade, as minhas ações, era uma árvore boa.
Fiquei triste à primeira vista, observei que existia muito sofrimento nas pessoas que se relacionavam intimamente comigo, justamente as pessoas que deviam ser mais felizes por estarem sob a minha influência mais direta. Isso dava a informação que minha arvore era ruim! Então a minha consciência dispara automaticamente para que eu realize o afastamento dessas pessoas, deveria evitar o sofrimento de cada uma delas, deveria deixar de dar esses frutos ruins. Mas, ao promover esse movimento, percebo que é gerado um sofrimento muito maior do que o anterior... que tão grande paradoxo! Como é que o afastamento da fonte do sofrimento de alguém, leva para esse alguém mais sofrimento? Conclui que eu estava fazendo julgamento precipitados sobre mim mesmo. Certamente a minha árvore não produzia somente um fruto. Outros deveriam existir de natureza positiva e em maior número. Somente isso poderia justificar que o afastamento gerasse um sofrimento maior do que antes existia. Eu vi em primeiro plano o efeito de um dos meus frutos negativos e me deixei levar por sua exclusiva conclusão. Não procurei ver a existência de outros frutos que também são produzidos em quantidade, tal qual um único pé de acerola, que todo dia dá frutos em abundância. Pode ser que entre esses um esteja estragado ou tenha um gosto amargo, mas o restante são suculentos e saborosos. Se eu arrancasse esse pé de acerola devido a essa fruta estragada ou amarga, iria deixar de ter todos os outros frutos saborosos que a cada dia está a minha disposição.
Foi essa compreensão que me fez recuar e observar com mais profundidade o efeito de minhas ações nas pessoas de minha intimidade. São pessoas que adquirem um brilho especial pela existência do viver, que encontram o amor em sua plenitude em tão grande quantidade que ela sozinha não dá conta de absorver tudo; tal qual a acerola, é necessário que se permita o excesso para outras pessoas senão as frutas cairão se perderão apodrecidas no solo. As pessoas podem fazer careta ao sentirem o gosto amargo de alguns frutos, mas se sentirão mais revigoradas e plenas pelo uso constante dos usos dos frutos saudáveis.
Foi assim que eu fiquei quieto com essa verdade que descobri, aprenderei a tolerar, assim como elas, o efeito desses frutos amargos, pois todos sabemos da imensidão de frutos saborosos que são produzidos, concomitantemente.