Existem dois tipos de cegueira: a cegueira material, onde os olhos ou o cérebro não conseguem ver ou distinguir as formas materiais, próprias do sentido da visão; e a cegueira espiritual na qual nossa consciência não consegue distinguir a realidade do mundo espiritual, mesmo com toda a evidência da coerência e de resultados científicos. Para a primeira cegueira não existem contradições, todos aceitam a sua realidade e ajudam aos cegos, que andam com suas bengalas ou cães-guia, nas suas adaptações ao mundo. Para a segunda cegueira existem diversas contradições, desde a posição ateia da inexistência de Deus e do mundo espiritual, até as diversas interpretações e conceituações de sua constituição. Estes cegos não são tão fáceis de identificar como os primeiros, pois à distância todos parecem iguais, nenhum deles usa bengalas ou cães-guia. Porem ao chegar perto, aquele que não é cego, vê o tamanho da cegueira que cada um pode ser portador.
Existe também outra forma de diferenciar as duas cegueiras: a primeira geralmente é adquirida, poucas pessoas nascem com ela; a segunda é inerente a nossa vida e constituição fisiológica e psicológica. Não percebemos e não entendemos o mundo espiritual desde o nascimento. É necessário que sejamos educados para a sua percepção consciencial, pois raras pessoas conseguem ter no seu campo de percepção a visão do mundo espiritual. Para que possamos sair dessa cegueira espiritual é necessário que sejamos instruídos e educados quanto a existência do Criador, da hierarquia dos seres inteligentes, da base existencial onde se processa a vida, e da Lei que organiza todo o processo evolutivo da Natureza.
Foi necessária a materialização dentro de um corpo biológico e entre nós, de um ente espiritual elevado, puro, como Jesus Cristo, que tivesse condições morais de nos passar essas lições do mundo transcendental, para que fossemos “curados” de nossa cegueira. Hoje temos o Evangelho, um registro de suas palavras e ações, que serve de roteiro para nós possuirmos a luz e sermos iluminados nas nossas diversas relações. No momento que adquirimos a luz, que deixamos de ser cegos, assumimos também a responsabilidade de a levar para quem ainda não a possui, mesmo que essa pessoa seja resistente e queira permanecer na escuridão, pelo efeito da ignorância na sua consciência. Jesus fazia milagres com relação a cegueira material, desde que a pessoa quisesse e tivesse fé, mas quanto a cegueira espiritual a pessoa devia usar o seu livre arbítrio para sair das trevas em direção a luz. Vejamos o exemplo de Saulo de Tarso. Ele sempre estava a ouvir a pregação dos apóstolos, ele tinha o contato com a luz, mas a luz não fazia efeito sobre ele. Até que a luz intensa do Mestre o atingiu, o levou à cegueira material, e a partir daí ele foi sensibilizado para a luz espiritual e conseguiu sair de ambas as trevas.
Eu, como a maioria das pessoas, acredito, fui adquirindo essa luz espiritual ao longo de minha vida, ouvindo palestras e sermões, lendo livros espiritualizados, participando de religiões e fazendo as minhas próprias experiências, tanto conscienciais quanto materiais. Hoje reconheço ser portador de uma boa parcela de luz e sinto o dever de a redistribuir ao meu redor. Mas sinto dificuldades em muitas ocasiões, mesmo que seja entre colegas, amigos ou familiares. A pressão do mundo material é tão forte, que me vejo sem espaço para falar dessa luz transcendental, sem passar por chato ou fanático. Com algumas poucas pessoas consigo dividir essa preocupação e como fazer para vencer esse tão grande obstáculo que deixa pessoas tão boas e caridosas completamente cegas. Também posso me envolver em situações de confronto material como aconteceu ontem aqui em Natal, num protesto contra aumento de transporte coletivo, e nada poder fazer. Nesse conflito, muitas pessoas foram envolvidas direta ou indiretamente, e mesmo que fossem pessoas iluminadas, o tamanho das trevas que foi formada impedia a qualquer manifestação da luz, a não ser que tivesse presente um ser superior, de luz e amor.