Tenho sempre escutado que a Bíblia Sagrada é a palavra de Deus. Nunca entrei em considerações a esse respeito, mas sempre ficava com uma interrogação a pairar na minha mente, não conseguia aceitar essa conceituação ou interpretação da Bíblia como uma questão definitiva e acertada. Desde que passei a ler este livro de forma sistemática, desde o seu início, pelo primeiro livro, Gênesis, essa minha dúvida ficava cada vez mais forte. Então hoje eu vou abordar essa questão e deixar a minha mente colocar os seus argumentos.
Hoje eu li um trecho escrito por um salmista: “São admiráveis as Vossas prescrições; por isso a minha alma as observa. Vossas palavras são uma verdadeira luz, que dá sabedoria aos simples. Abro a boca para aspirar, num intenso amor por Vossa lei. Voltai-vos para mim e mostrai-me Vossa misericórdia, como fazeis sempre com os que amam o vosso nome. Dirigi meus passos segundo a Vossa palavra, para que jamais o pecado reine sobre mim. Livrai-me da pressão dos homens, para que possa guardar as vossas ordens. Fazei brilhar sobre o vosso servo o esplendor da Vossa face, e ensinai-me as Vossas leis. Muitas lágrimas correram de meus olhos, por não ver observada a vossa lei.” (Salmo 118: 129-136, Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, Edição Claretiana, 1998).
Esse trecho pode ser a palavra do Senhor? Será que Deus se expressaria dessa forma? Não é mais coerente que tenha sido escrita por um homem, pelo salmista, que reconhecia a paternidade de Deus? Então não é a palavra de Deus, é a palavra de um homem temente a Deus e que com Ele quer se relacionar e ter proteção. Assim é a forma de expressão que permeia toda a Bíblia. Podíamos contra-argumentar e dizer: mas Deus jamais iria pegar num lápis e escrever, Ele deve intuir as pessoas para escreverem o que Ele tem interesse. Nesse caso, voltemos ao texto. Dá para entender que o que está escrito é o que Deus queria que fosse escrito? O salmista está descrevendo sentimentos íntimos, do que ele sente, do que ele percebe. Se essas palavras tivessem sido escritas por intuição de Deus, revelaria em Deus um forte conteúdo narcisista, de vaidade, de prepotência. Não é que Deus possa fazer tudo, já que Ele é onipotente, mas para a harmonia do Universo que é a sua principal lei, esses comportamentos e pensamentos são desarmônicos. E Ele não iria de encontro a sua própria lei. Poderia ser melhor conceituada a Bíblia Sagrada da seguinte forma: a palavra do homem na sua relação com o divino.