Quando temos determinado algum plano para nossa vida e sentimos que não conseguimos avançar como desejamos, temos a impressão de que estamos dentro da lama que impede nossos passos e que se for muito profunda pode cobrir o nosso corpo e roubar nossa vida.
Tenho a impressão que esse lamaçal que me impede os passos não é nada que existe fora de mim, são as próprias necessidades do meu corpo que representam esse perigo. O corpo me oferece prazer se eu cumprir o que ele deseja e por outro lado me oferece angustia e sofrimento se eu não o fizer. Eu sei que existe o limite, o caminho do meio como defende os budistas, devo oferecer ao corpo o que ele realmente necessita, para não o deixar acabrunhado, deficitário e incompetente para a vida. Tenho o dever de o manter saudável, oferecendo suas necessidades e tendo a consciência de receber o prazer devido a isso, como uma consequência de uma ação positiva e que é o meu dever. Não devo colocar o foco dessa ação que é minha obrigação de manter o organismo saudável, sobre o prazer que o próprio organismo me oferece. Se assim fizer, eu irei privilegiar o prazer e a sua obtenção, mesmo que ultrapasse os limites da necessidade do corpo. É nesse contexto, no qual eu posso me envolver com o prazer, que o próprio prazer pode se converter na lama material que impede os meus passos espirituais.
Agora, estou aqui nesta situação. Após ler o salmo 69:14 escrito por Davi, “Não me deixes afundar na lama. Livra-me (...) das águas profundas da morte”, compreendo toda a dimensão da sua luta para continuar acima da lama, uma experiência esmagadora, apavorante e cansativa. Sei que a natureza da lama moral que afligia Davi era proveniente também dos prazeres que o corpo oferece. Davi se envolveu profundamente nesse lamaçal de desejos, mas tinha consigo um grande aliado: a fé em Deus e que Ele podia o resgatar de tão grave situação. Eu não tenho a intensidade e luminosidade da fé que Davi possuía, mas também não mergulhei tão profundamente na lama quanto ele. Sinto que ainda não estou submerso, que o lamaçal de prazer do meu corpo não tem tão grande profundidade quanto aquele de Davi, mesmo porque os aspectos éticos do mundo atual ao meu redor ajudam a ser mais comedido nas minhas ações egoístas.
Com tudo isso, devo reconhecer a responsabilidade espiritual que carrego comigo. Eu tenho uma compreensão bem mais aprofundada das exigências do mundo espiritual sobre o mundo material, quando comparadas aquela compreensão que existia no tempo de Davi. Devo reforçar os aspectos éticos desenvolvidos pela sociedade atual e ao mesmo tempo reforçar as razões e sentimentos da fé no Criador, reconhecer a oração como o principal meio de comunicação com o Pai e com todos os meus irmãos, encarnados ou desencarnados. Tenho a sorte que Davi não teve, de ter comigo as lições esclarecedoras do Mestre Jesus, que por sinal é um dos seus descendentes. Já tenho em minha consciência a missão que o Pai me deu, de aplicar na vida prática o princípio do Amor Incondicional. Então, não posso deixar que esse lamaçal de prazer que o meu corpo forma ao redor do meu espírito seja a causa de minha falha frente ao Pai e aos meus irmãos.