Durante toda minha vida tenho lido e escutado sobre o Amor Incondicional, que é a essência de Deus, que é a força maior de todo o Universo... Confesso que nos primeiros momentos essa conceituação não entrava com facilidade na minha mente, era como se fosse uma alegoria que não tivesse nenhum sentido prático. Até mesmo a ideia da existência de Deus, de um Criador Universal passava por sérias dúvidas nos meus critérios de verdade. Foi a constante reflexão sobre tudo isso, a procura da verdade última e não contaminada por preconceitos de qualquer natureza, que me fez abandonar a dúvida, aceitar a coerência que em minha mente se instalou da unipresença do Criador totipotente em minha vida dentro de uma perspectiva eterna. A expressão de sua existência aceitei como toda a Natureza formada ao meu redor, que eu pudesse identificar ou não com meus órgãos dos sentidos ou meus aparelhos tecnológicos, dentro da dimensão material, espiritual e quantas mais possam existir e quem meus conhecimentos e minha inteligência não as possam alcançar. Então, o próprio Deus estaria presente em cada item de Sua criação, por mais ínfima que seja, um simples átomo, um simples elétron, uma ameba, até o ser ou objeto mais sofisticado por sua forma de pensar e de ser construído, como o homem ou o cristal. A força inerente a esse Criador, à sua inteligência absoluta, é o que podemos chamar de Amor Incondicional. A força que surgindo do nada ou da inteligência primordial, fez a criação de tudo o que podemos alcançar, refletir e conjecturar, até o limite do Big-Bang. É a força que permeia todo o Universo e que o faz funcionar com harmonia em todos os seus meandros. É a força que gera a principal Lei de funcionamento do mundo, a Lei do Amor. Só quem pode não obedecer essa Lei é o homem ou seres formados como nós com o atributo do Livre Arbítrio. Pode, mas não deve, pois sofrerá as consequências de todos seus atos que levarem a desarmonia, responsabilidade do Amor Incondicional.
Esta é a minha compreensão do Amor Incondicional, mas sei que devido aos nossos diversos interesses materiais, individualistas, egoístas, termino desenvolvendo outros sentimentos parecidos com o Amor Incondicional e que também dou o nome de amor: fraterno, pátrio, conjugal, filial, maternal, paternal, eclesiástico, etc. Todas as derivações que partem do Amor Incondicional e formam sentimentos parecidos, todos levam no seu bojo o interesse material, o condicionamento a tal ou qual situação. Quer seja todo o amor que temos a um filho, a uma esposa, a um amigo, à pátria, a uma igreja, até mesmo a um Deus caracterizado como o melhor de todos os outros deuses. Assim é o condicionamento: só amo tal pessoa com tal intensidade porque é o meu filho, porque é o meu amigo, porque é a minha religião, porque é o meu Deus! Isso faz uma grande confusão, pois nesse mar de sentimentos parecidos com o Amor incondicional e que recebe o nome genérico de Amor, passamos a ver muito distante o Amor Incondicional, talvez uma coisa inexistente, talvez uma sentimento que só pode ser praticado por Deus.
As vezes fico confuso, pois vejo ao meu redor tantas formas de amor derivadas sendo reverenciadas e praticadas com tanto esforço, que chega a obnubilar a existência do Amor Incondicional, e eu, que aceitei na minha consciência como missão dada pelo Criador, a aplicação dessa forma de amor, fico as vezes no canto de parede. Fico as vezes hostilizado, odiado, expulso... por tentar praticar essa forma de amor. O amor que deveria trazer a harmonia para minha vida e para todos que fazem parte do meu contexto. No entanto, as diversas formas de amor condicional que são as normas dentro da cultura humana, geram tamanho disparate em minha vida. Até mesmo em reuniões acadêmicas, que discutimos a natureza dessas coisas, o Amor Incondicional não é identificado como parece ser para mim, que não pode ser aplicado por nós, simples humanos... frente a tanta dificuldade de compreensão, de convivência, a minha mente quer desenvolver uma semente de dúvida e perguntar para mim mesmo ou para o Pai que me deu tamanha certeza na minha forma de pensar: “Que és, Amor Incondicional?”
Mas vejo lá no fundo da minha consciência o sorriso paternal do Pai, que simplesmente diz num muxoxo: “Não respondo, tu sabes o que é!”