Esse aspecto do meu paradigma de vida, confiar em Deus, foi uma conquista lenta que ainda está em processamento acredito. Lembro desde a minha infância quando eu tinha uma participação ativa dentro da igreja católica, era escoteiro sob a orientação do padre de minha comunidade, estudava no colégio sob a sua direção, auxiliava na missa e nas procissões, e fazia minhas confissões e orações regularmente. Adquiri o hábito que se arrasta até hoje de forma condicionada, de rezar a Ave Maria sempre que vejo no céu a Estrela D’Alva. Desde essa época Deus estava presente na minha consciência, mas era representado como um velhinho de barbas brancas que estava sempre a me vigiar, que eu devia mais temer do que confiar. Toda minha relação com Ele era baseada nos rituais que eu deveria observar, nas orações decoradas que eu devia aprender e executar diariamente sob a vigilância da minha avó, nas confissões ao pé do padre para me sentir aliviado dos erros que eu praticava. E Deus sempre era o proprietário severo da minha vida, sempre pronto a me castigar por minhas peraltices, mesmo que mais ninguém soubesse.
Com o passar do tempo eu fui adquirindo uma razão critica por tudo ao meu redor, inclusive a concepção que eu tinha de Deus, até mesmo duvidava da Sua existência. Passei a desenvolver o meu ego e com ele eu entrei no centro de meus interesses. Tudo que era observado ou que eu sentisse era considerado como uma forma de crescimento dentro da minha evolução pessoal. Passei a desenvolver controles racionais para executar com pragmatismo os recursos que surgiam à minha frente. Queria que as coisas fossem feitas de um jeito que me trouxessem conforto. Foi o momento que eu mais fiquei afastado de Deus! Perambulei por várias igrejas procurando encontrar o Deus que eu tinha necessidade. Apesar da dúvida eu intuía que Ele existia e que eu o encontraria em algum lugar. Cheguei a me sentir ateu, de que não existia Deus nenhum a não ser no imaginário humano. Mas sempre a dúvida vinha atormentar a minha consciência: e se Ele existisse? Aprofundei, paralelamente à minha vida acadêmica, os estudos nos livros espiritualistas de quaisquer religiões. Lentamente a ideia de Deus foi adquirindo um novo formato na minha consciência. Não era mais o velhinho de barbas brancas, e sim a inteligência suprema do Universo e que faz tudo funcionar com a energia da Sua essência que podemos sentir como Amor Incondicional. O meu racional não tinha como colocar dúvidas sobre a realidade dessa hipótese, pois o fato da Natureza estava presente no cotidiano de minha existência, inclusive a minha própria vida. Passei a me considerar uma das Suas criaturas, criado por ato de amor e pelo amor me desenvolvo na trilha da evolução que Ele me colocou.
Hoje tenho uma consciência bem mais clara da Sua existência e da minha, da dEle enquanto Criador, da minha enquanto criatura. E entre nós e em tudo que existe, a força do amor a promover a evolução. Sei que Ele colocou em minha consciência um projeto de acordo com Sua vontade e que Ele me auxilia nesse processo, pois sabe que estou dentro de um corpo biológico cheio de energias instintivas de sobrevivência e reprodução, que podem turvar minha consciência. Posso perder minhas forças espirituais e me deixar influenciar, no gozo ou no sofrimento, por essas forças materiais, instintivas e mundanas. Mas agora eu confio plenamente em Deus, essência do Amor Incondicional, que está sempre ao meu lado para me proteger e amparar. Mesmo que em alguns momentos surja a melancolia em minha alma, ela não me dominará, consigo transformar as lágrimas de tristeza em belas poesias e baladas para louvar a Natureza e ao Senhor da vida, e assim como Francisco de Assis, ser um constante jogral de Deus.