Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
03/06/2013 23h59
OLHAR COMPASSIVO

            Procuro seguir na vida com o olhar de compaixão por todos os seres da Criação, principalmente pelos relacionamentos afetivos. Acredito que desde criança já possuía essa tendência. No encontro com o instinto sexual na adolescência, quando os hormônios passaram a ser liberados em função da reprodução, eu poderia ter deixado de lado esse sentimentalismo e ter ido em busca da emoção dos prazeres sexuais sem nenhuma preocupação humana com os interesses femininos. Foi isso que aconteceu com os meus dois irmãos. A busca do prazer sexual passou a ser o foco de suas vidas. Eu tinha também o mesmo interesse sexual, mas estava condicionado ao respeito pela condição feminina, jamais pratiquei ou tive a intenção de buscar o sexo vendo a mulher como um instrumento, simplesmente um objeto para isso. Chegava ao cúmulo de ir com eles de forma solidária para as boates, ficarmos numa mesa juntos, chegar a conversar com algumas das profissionais do sexo, mas não sentia a motivação de ir transar com elas como meus irmãos faziam, usando mais de uma mulher em uma só noite. Eu saía desses locais ouvindo o grau de satisfação do que eles acabaram de fazer e a ironia deles comigo e, no entanto, não sentia a necessidade de mudar o meu comportamento. Eu imaginava que a mulher com quem eu me envolvesse intimamente deveria ser com a motivação básica do amor, e não somente do instinto sexual e da facilitação monetária. Poderia ser até dentro de uma boate, de um cabaré, eu não tinha preconceitos, desde que tivesse o amor como elemento catalisador.

            Este olhar compassivo sobre a Natureza, sobre os relacionamentos, sobre os desejos do sexo, me acompanhou durante toda a vida. Esta viagem que fiz neste final de semana na companhia de meu irmão até Fortaleza, deixou bem marcante esse comportamento dispare entre mim e ele. Ele dominava o centro das atenções, a sua forma irônica e engraçada de observar e comentar tudo ao seu redor, com pitadas quentes de sexualidade, beirando a pornofonia, mostrava com clareza a utilidade da mulher como um objeto sexual, sem um pingo de consideração à sua condição humana. Eu não concordava em quase 100% do que ele falava, como acredito todos que o ouviam deviam ter essa mesma avaliação, no entanto todos se divertiam a valer com sua prosa libidinosa e egoísta. Aqui, acolá, surgia algum comentário contrário dos seus ouvintes, mas nada de forma antagônica que levasse ao enfrentamento dos paradigmas.

            Ao término da viagem, ao chegar, sozinho em meu apartamento, fiquei a meditar sobre tudo isso. A sabedoria de Deus me colocou nessa situação de enfrentamento para Ele verificar como seria o meu comportamento. Levei um livro para a viagem para tirar pelo menos uma hora e refletir sobre os nossos compromissos espirituais, mas não consegui fazer isso. Envolvido com o clima de “farra” e com a cumplicidade do esquecimento, o livro voltou comigo sem ser aberto. Mas, apesar de tudo ficou comigo lições importantes: ficou bem clara a diferença que existe entre mim e o mundo; ficou clara também as minhas convicções amorosas, de fraternidade, de respeito a condição do próximo, mesmo com todo o clima de envolvimento; e que devo encontrar formas solidárias de apresentar de maneira educativa o que eu já aprendi do mundo espiritual, de mostrar que todo tipo de desejo carnal deve estar subordinado ao Amor Incondicional. Este é o papel de professor que eu devo assumir, um professor contundente, mas que ensine com ternura, para que o pecado seja atingido sem destruir o pecador. Já sei das principais lições do mundo espiritual, agora devo aprender as técnicas solidárias de aplicar as lições. Nesse ponto o meu olhar compassivo muito me ajudará.   

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 03/06/2013 às 23h59
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