Depois que Paulo fez a pregação no Areópago, o supremo concílio de Atenas, decidiu nada saber sobre o mundo, a não ser Jesus Cristo, e este na condição de crucificado. Alguns comentaristas acreditam que ele tomou essa decisão porque seu discurso aos filósofos foi um fracasso, muito intelectual e centrado na criação e não na cruz. Assim, a caminho de Corinto ele se arrependeu e tomou a decisão de pregar somente sobre a cruz. Lucas, no entanto, não parece acreditar que o discurso de Paulo foi um fracasso. Ao contrário, ele o considera um modelo de pregação para intelectuais. Além disso, alguns creram, e Paulo não mudou sua tática ao chegar a Corinto.
Não, a decisão de Paulo foi por outro motivo. Certamente o que o impeliu foi o orgulho e a imoralidade dos coríntios, uma vez que a cruz se coloca em franca oposição a ambos, orgulho e imoralidade. Os coríntios tinham orgulho de sua cidade por sua riqueza, cultura e jogos. Também era a capital da província da Acaia, ocupando uma posição superior até mesmo a Atenas. Mas a cruz destrói todo orgulho humano. Corinto também estava associada a imoralidade, uma vez que korinthiazai significa praticar imoralidades. No ponto mais alto do Acrocorinto (fortaleza situada na Acrópole de Corinto), atrás da cidade, ficava o templo de Afrodite ou Vênus, a deusa do amor, e mil escravas vagavam pelas ruas da cidade à noite como prostitutas. O evangelho do Cristo crucificado, no entanto, convocava os coríntios ao arrependimento e à santidade. É nesse sentido que a cruz de Cristo, com seu chamado ao arrependimento e à autonegação, era uma pedra de tropeço para os coríntios orgulhosos e pecadores. Por isso Paulo se dirigiu a eles com fraqueza, temor e tremor (1Co 2:1-5).
Esses dois fatores, orgulho e imoralidade, continuam presentes na intelectualidade de hoje. Mesmo que a ciência e a tecnologia tenham ocupado a forte presença da mitologia existente nos filósofos da época, isso não alterou em nada a força do orgulho e imoralidade nos cientistas e acadêmicos de hoje, com os devidos retoques que a ética trouxe à civilização. Podemos ver o orgulho presente e ostensivo em todos os setores da comunidade, desde o militar onde é considerado uma virtude, até o eclesiástico onde não deveria existir. Podemos ver a imoralidade campeando nas ruas, não como escravas à serviço de Vênus, mas como prostitutas de todas as condições sociais e faixas etárias à serviço do dinheiro. A cruz de Cristo representa até hoje forte oposição a esses dois fatores culturais.
Então, a mesma dificuldade que Paulo tinha quando sabia que iria fazer esse enfrentamento, eu também o tenho com as mesmas características: fraqueza, temor e tremor. Uma qualidade que Paulo tinha e que até hoje eu não conquistei, foi sobre o domínio do corpo. A preguiça e a gula são dois adversários internos que dificultam eu fazer o enfrentamento tal qual Paulo o fez. Mas tenho a esperança viva dentro de mim que superarei esses problemas, pois tenho ao meu lado a verdade sem retoques, que denuncia para o mundo as minhas fraquezas e isso enfraquece o meu ego; tenho também a convicção de cumprir a vontade de Deus que Ele colocou em minha consciência e com as lições do Mestre Jesus, com o símbolo da cruz como humildade e ética, eu conseguirei atingir os meus objetivos, mesmo que seja tão vagaroso o caminho que sinto percorrer. A pregação para os intelectuais que são os meus pares na academia, evoca dentro de mim todo o temor que existia em Paulo, mas assim como ele estava sintonizado com a missão que o Cristo lhe confiara, eu estou sintonizado com a Missão que Deus me deu, de praticar o amor incondicional em todos meus relacionamentos. É esta base espiritual que me levará ao cumprimento de minha missão, assim como aconteceu com Paulo, apesar de todos os medos, de todas as consequências desse enfrentamento cristão com o mundano.