Fico muitas vezes a refletir sobre o sofrimento que causo em minhas companheiras em função da minha ausência. Por diversas circunstâncias muitas vezes elas se encontram sozinhas em algum apuro e nem ao menos posso falar com elas. Elas criticam essa minha forma de companheirismo ausente e não encontro na minha consciência forte argumento para justificar. Sei apenas que cumpro a vontade do Pai e que essa é uma das consequências para aquelas que se dispõem a serem minhas companheiras na jornada que o Pai traçou para mim.
Foi com a leitura do prefácio do livro “A força eterna do Amor”, escrita por Teresa de Calcutá pelas mãos de Robson Pinheiro, que encontrei esta passagem que me deu um grande alento para esse conflito que queria se instalar em minha mente:
“Conta-nos São João da Cruz, o biógrafo de Teresa de Ávila, uma carmelita espanhola que viveu no século XVI, que a mística tinha visões de Jesus e dos apóstolos, sendo que muitas vezes, conversava longamente com Pedro, João Evangelista e Paulo de Tarso, entre outros.
Certa ocasião, Teresa de Ávila levava mantimentos aos pobres das cercanias do convento onde ela se dedicava a vida religiosa. No trajeto um vendaval seguido de forte tempestade a surpreende atravessando uma ponte, destruindo-a e provocando a queda do animal, que carregava os víveres, no precipício. Teresa caiu junto com ele, no rio que corria abaixo, enquanto invocava, através de clamores, os apóstolos e o próprio Jesus, com quem ela tinha encontros frequentes em seu transe místico. Depois de extraviarem-se todos os mantimentos destinados aos pobres e vendo que nem os apóstolos nem Jesus respondiam ao seu chamado, ela conseguiu, a custo, chegar à margem do rio, onde desfaleceu. Eis que, após o silêncio – que lhe parecera demasiadamente longo – por parte dos apóstolos e de seu Senhor, aparece-lhe o próprio Jesus. Eleva-se acima dela e, com olhar profundo e penetrante, finalmente lhe diz:
- Vede, Teresa, como trato meus seguidores?
Ao que ela respondeu prontamente:
- Ah! Senhor... Agora compreendo porque o Senhor os tem tão poucos!
Foi então que compreendi melhor porque tenho tão poucas pessoas que se propõem a serem minhas companheiras, pois a consequência das minhas ausências principalmente em momentos críticos são fortes motivos para desistência. Aceitei melhor as consequências dessas ausências enquanto sigo a vontade do Pai. Mesmo que não consiga alcançar a compreensão completa de que essa situação seja necessária, mas somente o exemplo do Mestre, que não atendeu ao chamado da sua companheira dos momentos místicos por motivos que não consigo alcançar, é suficiente para eu me acomodar com esses momentos pelos quais devemos passar, de ter um(a) companheiro(a) e nos sentir sozinho em determinado momento. Agora mesmo, se fosse para seguir a minha vontade material, estaria ao lado de alguma companheira que melhor atendesse aos imperativos dos meus desejos carnais. Poderia até descer do meu apartamento até à beira da praia e contratar a mais bela e fogosa companheira para evitar a solidão da noite ao meu redor.
Esta lição da solidão, da ausência de um companheiro, do sofrimento que isso trás, principalmente nos momentos dramáticos da vida, devo aceitar como uma das consequências por eu querer seguir, e também elas, a vontade de Deus e não a nossa.