Dentro dos preceitos da devoção constante, ensinados pelo Bhagavad-Gitã, é a auto-realização uma das mais importantes. Não deixa de ser assim uma das mais difíceis, que exige maior esforço. É um aperfeiçoamento que procuramos fazer e que exige muita vontade e determinação para vencer os adversários internos.
Tenho já bem claro na consciência quais são os meus principais adversários internos que impedem a realização dos meus intentos de evolução: a preguiça e a gula. Não é que não existam outros adversários reconhecidos e atuantes no meu comportamento, mas nenhum deles com a força que esses dois demonstram e que estão sempre a solapar as minhas boas intenções. A gula implica no prazer imediato com os alimentos que são necessários as necessidades do corpo, mas que se exagerados pela ação da gula, termina por acumular os excessos, favorecer o sobrepeso e obesidade e consequentemente diversas doenças metabólicas e oportunísticas. A preguiça é a mais sorrateira de todas e que recebe o apoio da gula. Com a justificativa do “justo repouso” necessário a recuperação do desgaste do corpo durante a faina diária, a preguiça sorrateiramente domina o comportamento e patrocina a procrastinação de tarefas importantes em todos os níveis da auto-realização, material e espiritual.
Fazer esse enfrentamento implica numa coragem talvez maior do que ir a uma guerra. No caso da guerra existem fatores externos como a convocação da pátria, os valores éticos e morais envolvidos e até a coerção jurídico/policial para a sua realização. No caso da auto-realização esses fatores externos não existem, quando o comportamento não é tão exagerado ou mesmo quando existe uma série de atividades que demonstram o contrário, que o indivíduo já faz tanto trabalho que jamais pode ser considerado vítima da preguiça. Realmente, esse é um jogo sutil. Eu mesmo chego a pensar dessa forma e quando isso acontece eu vejo um pouco adiante que o repouso justificado se transformou no ócio desnecessário, o que caracteriza a preguiça. Tanto com a gula como com a preguiça, tenho que encontrar o ponto de equilíbrio, pois tanto o alimento quanto o repouso são necessários para uma boa qualidade de vida, mas quando exagerados termina por comprometer essa mesma qualidade de vida que deveria ser o objetivo.
Devo aceitar que para aplicar essa auto-realização como devoção constante na minha vida, vou passar por sacrifícios corporais no que tange os desejos do corpo. Para isso tenho que ter disposição espiritual, uma vontade férrea e um corpo disciplinado e capacitado. Verei se serei capaz de aplicar em minha vida essa devoção constante, sabendo, como o Bhagavad Gita indica, que isso é o que Deus espera de mim.