Vez por outra chega a minha mente esses pensamentos que não sei a quem pertencem, mas que estimulam o meu raciocínio. Será que tenho realmente uma missão dada por Deus para cumprir conforme Sua vontade a aplicação do amor incondicional em minha vida? Ou estou simplesmente fascinado por uma ideia que tomou corpo ao longo dos anos, que me dava prazer sexual com as mulheres? Este é o cheque-mate que esses pensamentos me colocam e volto a raciocinar com toda a lógica que consigo empregar para conseguir alcançar a coerência no meu modo de ser e viver.
Peço desculpas ao Pai por me envolver mais uma vez nessas cognições que levam em seu bojo a dúvida quanto a minha fé adquirida até este momento ao custo de tanta racionalidade. Espero fazer isso pela última vez!
Então vou colocar a contenda nestes termos: a fé, a dúvida e a razão. O que faz a motivação acontecer para que eu entre nessa disputa mais uma vez, que tem como consequência a mudança ou afirmação de paradigmas, é verificar em que base está a minha fé, se ela consegue resistir às críticas da dúvida e usando como árbitro para isso a coerência da razão.
O paradigma consciencial que assumo neste momento da minha vida, segue uma coerência de ações tomada ao longo dos anos. Forçado que fui pelo amor romântico que se espalhava em várias direções, no desejo instintivo do prazer sexual, procurei ser fiel aos critérios do amor incondicional em todas as circunstâncias e a consequência lógica disso foi a construção de um novo paradigma, este que no momento eu acato e procuro seguir, que me fez sair do eixo paradigmático da cultura social em que estou inserido. Foi essa nova construção paradigmática que fui fazendo que está aqui mais uma vez posta por minha consciência em cheque. Volto os meus pensamentos ao passado e procuro avaliar cada ato que realizei, cada pensamento que tive, cada sensação que senti, cada prazer que gozei, cada sofrimento que sofri... e as consequências de tudo isso nas pessoas que estavam ao meu lado, que sofriam efeitos proporcionais à proximidade física e sentimental de cada uma delas que comigo partilham os caminhos da vida. Não consigo ver nenhum erro de coerência, e aqueles que cometi, mas que cheguei a perceber como tal, já os corrigi. A defesa do aborto, por exemplo.
Como consequência de tudo isso moro hoje sozinho. Não encontrei até agora nenhuma companheira para dividir integralmente o caminho que esse meu paradigma construído induz. Apesar de algumas já terem tentado, mas sempre falham fragorosamente, tentam colocar o amor romântico na frente do incondicional, deixam a força do egoísmo aplicar o ciúme e o exclusivismo contra a fraternidade e a inclusividade própria do amor incondicional. Isso me obriga a manter esses relacionamentos afetivos, principalmente os mais íntimos, a uma distância que atende aos princípios egoístas delas, do amor romântico, mas não aos meus princípios de fraternidade, do amor incondicional. Isso me força a morar sozinho para que o choque dessas duas formas de amor não gere conflito e desarmonia no meu lar que deve ser o ninho do amor incondicional, da tolerância, do respeito ao livre arbítrio de terceiros, da solidariedade, da inclusão. O amor romântico pode até se expressar, mas na consciência de que está hierarquicamente subordinado ao amor incondicional.
Esse sentimento de solidão é o que me faz acordar em plena madrugada e levantar essas cogitações: será que estou errado? Será que estou fascinado ao invés de seguir uma missão divina? Será que tenho que corrigir todos os erros do passado e voltar ao momento original onde tudo começou, se isso ainda for possível?
Mas continuo sem ver onde estão esses erros que apontem a falta de coerência em algum ponto da minha arvore de decisões. Continuo a sentir e cada vez com mais força a influência de Deus na minha vida, nos meus pensamentos e nas minhas decisões. Tudo isso eu racionalizo e sinto que reforça o atual paradigma que norteia a minha vida. Será que tudo isso faz parte da fascinação? Mas a minha principal arma para dirigir a minha vida foi o raciocínio, o poder de criar juízos críticos sobre a coerência de minhas ações. E toda fonte de conhecimentos que chega ao meu alcance serve para reforçar e dar uma direção a minha vida que cada vez mais reforça o paradigma que procuro cumprir, que se resume em cumprir a vontade de Deus, independente do meu bem estar físico, quer seja só ou acompanhado, quer seja no sol ou na chuva, quer seja sofrendo ou gozando!
Mesmo assim, mesmo o meu racional referendando tudo que fiz até agora, ele se mostra ainda cuidadoso e abre espaços para os meus críticos colocarem a lógica de suas avaliações e julgamentos das minhas ações. Meu racional quer ver se o racional de meus críticos possuem argumentos lógicos que possam me tirar dessa fascinação se realmente dentro dela eu estou. Caso contrário, reconhecerei com mais firmeza que estou cumprindo a vontade de Deus e procurarei não mais considerar esse tipo de dúvida que fez hoje, agora, eu desenvolver este texto.