Estamos acostumados a ver pessoas burlando a lei e fazendo construções sem a devida autorização das autoridades responsáveis, com o plano de arquitetura, engenharia, propriedade do terreno, alvarás, licenças, etc.
Tive a oportunidade de conhecer uma dessas construções clandestinas, mas diferente do que eu poderia imaginar, que iria ficar contrário a esse procedimento, fiquei entusiasmado com o projeto e pelo pioneirismo da obra. Não creditei nenhum juízo negativo e até procurei ver em que nível eu poderia colaborar.
Antes que o leitor passe a desconfiar das minhas boas intenções, de cumprir com rigor a ética e moral ensinada por Jesus, vou logo explicando minhas razões.
Felizmente já tenho a consciência da existência dos dois planos da existência, o material e o espiritual. Sei da evolução que acontece no plano material, encharcado de valores egoístas, e da evolução que acontece no plano espiritual recheado de valores éticos e morais. Sei que a família que construímos no plano material é baseada no amor romântico, que implica em ciúme e exclusividade. Isso dificulta a formação do Reino de Deus que deve ser construído na base do Amor Incondicional, da inclusão e da fraternidade. Portanto, os lares que formamos aqui tem essa característica, um muro ético e às vezes muito real que separa as famílias uma das outras e deixam imperar entre elas a lei do mais forte, do mais sabido, do mais rico. É aqui neste lado da vida, o lado material, que encontramos belas construções e todas devidamente registradas e legais. Também aqui encontramos diversas construções clandestinas, principalmente em comunidades carentes, ou miseráveis, onde a lei não tem condições de imperar por falta de justificativas éticas.
Mas não foi neste plano que encontrei a construção clandestina que quero citar. Foi no plano espiritual, encontrada durante um sonho. Era uma casa formosa, com jardins e pomares bem cuidados. Mas o que chamava atenção era o seu conteúdo, das pessoas que lá viviam e que dava a permissão de eu a enquadrar como clandestina, tomando como base os valores materiais deste lado da vida. Existiam pessoas dentro desta casa que no mundo material não podiam ficar no mesmo espaço. Irmãos com pais e mães diferentes e convivendo todos na presença de seus pais biológicos que proporcionavam uma sinfonia harmônica de sentimentos nobres, todos sintonizados com o Amor Incondicional. Dentro dessa casa não havia ciúmes, não havia tentativa de ninguém excluir ninguém. Todos obedeciam a lei maior de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Dessa forma, mesmo as pessoas que viviam em outras casas, eram objetos do mesmo amor e carinho que existiam nessa construção clandestina.
E por que eu teimo em rotular uma casa tão perfeita como clandestina? Perfeita do ponto de vista espiritual, onde os valores morais e éticos superam os impulsos egoístas. Uma casa com essas características não tenho notícia de existir em nenhum rincão de nosso imenso Planeta. Por isso, acima dos aspectos legais, essa casa se torna clandestina aos olhos materiais porque dá um salto de qualidade e forma o modelo dos lares que deverão compor o Reino de Deus. Então, é uma clandestinidade positiva, é algo que procuraremos construir, todos nós algum dia, quando tivermos conscientizado que a lição do Mestre Jesus é para ser colocada em prática e não ser usada como mais uma ferramenta para atingirmos nossos interesses egoístas.
Talvez seja mais fácil construirmos esse lar perfeito apenas em nossos sonhos, pois lá não existe a pressão egoísta do mundo material. Mas alguém já disse uma vez que sonho de um é utopia, delírio, mas o sonho de muitos é realidade. Estou dentro do delírio, mas quem sabe um dia não se torne realidade?