O modo da paixão caracteriza-se pela atração entre homem e mulher. A mulher sente atração pelo homem, e o homem sente atração pela mulher. Isso se chama modo da paixão. E quanto maior o modo da paixão, maior o anseio pelo prazer material. Deseja-se, então, obter gozo dos sentidos. Na busca pelo prazer dos sentidos, um homem no modo da paixão deseja alguma honraria pessoal ou nacional, e quer ter uma família feliz, com belos filhos, esposa e casa. Estes são os produtos do modo da paixão. Enquanto desejarmos essas conquistas, teremos de trabalhar mui arduamente. Portanto, aqui se afirma com bastante clareza que o ser vivo se envolve com os frutos de suas atividades e assim se prende a essas atividades. A fim de agradar a sua esposa, filhos e a sociedade e para manter seu prestígio, ele tem que trabalhar. Por isso, todo o mundo material está mais ou menos no modo da paixão. O avanço da civilização moderna é medido de acordo com seu envolvimento com o modo da paixão. Outrora, tomava-se como referência o modo da bondade. Se nem mesmo aqueles que estão no modo da bondade conseguem liberar-se, que dizer daqueles que estão enredados no modo da paixão? (Baghavad Gita, cap. 14, verso 7)
Reconheço que essa lição do Bhagavad Gita é muito aplicada à realidade. Podemos observar isso constantemente ao nosso redor. Eu mesmo posso me colocar como exemplo da aplicação do modo da paixão. Tenho facilidade de me apaixonar pelas mulheres. Mesmo depois de casar com uma e tentar viver com harmonia, justiça e fraternidade. Acontece que os meus impulsos biológicos estão sempre atuando no sentido de me envolver com outras mulheres e obter o prazer, o gozo dos sentidos. Este é o motor básico. Acontece que comigo funciona a lei do amor em prioridade e que considera amar ao próximo como a mim mesmo. Então, se desenvolvo a paixão por uma mulher em busca desse prazer individual, logo eu faço a pergunta: qual o benefício que eu levo a essa mulher agindo no modo da paixão? Eu sei que o prazer, o bem estar que eu posso sentir com essa relação, ela pode sentir da mesma forma e isso é útil para nós, desde que não existam impedimentos morais e éticos. E o único impedimento que devo respeitar é a lei do amor, que leva em consideração esses principais itens: justiça, verdade, harmonia. Eu tenho demonstrado vigor e eficiência no seguimento da lei do amor, Amor Incondicional, no confronto com o desejo da paixão, o amor romântico.
Também quando faço a aplicação da Lei do Amor, não faço isso como se tivesse pegando uma ferramenta e a utilizando como faço com uma pá, uma caneta, etc. Sei que a Lei do Amor tem por trás uma inteligência infinita e que aplica essa lei na criação da natureza, do cosmo, do universo. Uma inteligência que posso identificar como Deus. Então, a ferramenta do amor incondicional se confunde com o próprio Deus, que permeia todo o universo, inclusive a mim mesmo e ao meu próximo, que também é a minha imagem e a semelhança do Pai, na forma de sentir e expressar esse Amor Incondicional. Isso me livra do risco da dependência sexual ou afetiva, de correr atrás dessa paixão, desse gozo de forma obsessiva, sem considerar os interesses e bem estar do outro, apenas com a viseira de que nele eu encontro o objeto do meu prazer.
Assim, para mim, o modo da Paixão deixa de trazer os problemas que o Bhagavad Gita aponta. Pelo contrário, ele passa a ser agora mais uma ferramenta subsidiária para que eu possa ativar com mais energia o amor incondicional que permanece dentro de mim. Aproveito toda essa energia de paixão por uma mulher e a coloco como motor para funcionar com mais vigor o Amor Incondicional dentro de mim. Dessa forma, tanto a mulher que é alvo da minha paixão, como todas as outras mulheres da minha convivência, inclusive meu próximo e a própria comunidade, receberão os benefícios dessa sublimação de amor romântico, de paixão, em Amor Incondicional. Considero, portanto, que eu tenha escapado do enredamento do modo da paixão. O meu envolvimento com o trabalho material, não tem agora o sentido de justificar e manter esse modo da paixão, tem o sentido de obter a recompensa material pelo meu trabalho material, para que assim eu me torne mais competente na aplicação do Amor Incondicional ao lado dos meus irmãos que apresentam tantas carências materiais e espirituais, e assim cumpra a vontade de Deus implantada em minha consciência: PRATICAR O AMOR INCONDICIONAL!