Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
08/08/2013 00h01
ORGULHO E ARROGÂNCIA

            Michael Largo, em seu livro LUNÁTICOS POR DEUS (Lafonte, 2011) conta a história de Absalão.

            Absalão era o terceiro filho do rei Davi. Bonito como um ídolo de revista de celebridades, capaz de arrasar corações, orgulhava-se dos longos e belos cabelos e prezava a moda elegante. Cabeça quente, aspirava ser mais do um playboy bíblico. Apareceu pela primeira vez com destaque nas Escrituras ao tramar o assassinato do meio-irmão Amnon, que, segundo os boatos, fizera sexo com sua irmã mais nova, Tamar. Por dois anos Absalão escondeu o ódio pelo irmão mais velho – e herdeiro do trono de Davi -, até convencê-lo a participar de uma de suas mal afamadas festas na época da tosquia das ovelhas. Quando Amnon estava embriagado, Absalão mandou seus criados matarem-no. Quatro anos depois, quando era o próximo na linha de sucessão, ficou impaciente para tomar as rédeas do reino e organizou uma bem-sucedida revolta. No início o povo de Israel e Judá apoiou sua tomada de poder, muitos influenciados por seu carisma e promessas de bons tempos para todos. Davi viu-se forçado a fugir, atravessando o rio Jordão. Um servo da corte, ainda leal ao rei deposto, persuadiu Absalão a não perseguir o pai – o que teria sido o fim de Davi -, mas esperar para desferir o golpe final depois de reunir seu próprio, e mais poderoso, exército.

            Nos últimos anos do século XI aC, as forças de pai e filho se confrontaram na floresta de Efraim. Os longos cabelos de Absalão foram sua ruína. Ao separar-se de seus soldados e bater em retirada, a galope, acabou suspenso da sela quando seus cabelos se enroscaram na folhagem espessa de um carvalho. Davi ordenara aos homens tratar seu jovem filho gentilmente, caso o capturassem. Todavia o veterano general Joab, ao chegar ao local onde Absalão jazia suspenso pelos cabelos, cravou-lhe três lanças no coração. A despeito da traição do filho, Davi ficou desolado. Anos depois, em seu leito de morte, dirigiu suas últimas palavras àquele que logo seria rei, Salomão, instruindo-o a matar o general Joab (sobrinho de Davi) em retaliação ao assassinato de seu filho.

            A Bíblia lista sete pecados capitais e considera a soberba ou vaidade o mais maléfico, argumentando ser a causa de todos os outros. O egocentrismo conduz às transgressões da luxúria, gula, avareza, ira, preguiça e inveja. Absalão não precisava participar da batalha, todavia gostava da própria aparência quando envergava a armadura. Sabia que ao galopar sua cabeleira ao vento proporcionava um espetáculo e tanto. Ele negligenciou conselhos militares referentes a diversas questões na campanha contra o pai, e a mais séria foi sua recusa em usar um elmo ou prender os cabelos num rabo de cavalo.

            Antes da ruína vem o orgulho, e antes da queda a arrogância (Provérbios).

            O exemplo de Absalão é uma constante em nossos dias. Mesmo em pessoas que procuram uma evolução espiritual, sempre podemos observar aspectos do orgulho e arrogância. Na minha relação com o meu filho, tenho a tendência de colocar a minha autoridade de pai dentro do orgulho e arrogância e obrigar que ele faça aquilo que eu acho correto, sem entrar um pouco dentro das suas justificativas e limitações. Até mesmo no convívio diário com meus amigos e colegas, tenho a tendência de colocar os meus argumentos contaminados do orgulho e arrogância que se reflete na minha forma contundente de colocar minhas razões. Percebo que isso é uma das causa de provocar reações negativas nos outros, e mesmo eu sentindo que estou com fortes razões, termino por ficar isolado na discussão. A minha atitude orgulhosa e arrogante termina por provocar o isolamento das minhas ideias, a rejeição para serem avaliadas à luz da razão e da coerência. Tenho que combater essa tendência intrínseca, com o desenvolvimento da humildade. Tenho que colocar a minha compreensão dos fatos e da lei da vida, como se eu não tivesse tanta certeza, que eu posso estar errado nas minhas conclusões, e pedir ajuda para o esclarecimento fraterno. Absalão se orgulhava da sua bela cabeleira, do seu porte atlético e isso foi sua ruína. Eu me orgulho da minha inteligência, da capacidade de fazer conexões diversas e tirar novas conclusões, às vezes contrárias ao senso comum. Não tenho ainda a devida prudência de ser humilde quando for conveniente colocar a minha opinião. Não sei nem como fazer assim. Tenho que praticar, mesmo que seja sozinho, a forma de colocar os meus pontos de vista sem a contaminação da arrogância. O estudo da terça feira será um bom campo de prática para essa minha nova necessidade, que o comportamento de Absalão escancarou à minha consciência.    

Publicado por Sióstio de Lapa
em 08/08/2013 às 00h01
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