Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
11/09/2013 00h01
O CRIADOR CREADO

            Huberto Rohden tinha uma preocupação toda especial em esclarecer o significado desses dois termos, crear e criar. Ele sempre gosta de fazer a seguinte advertência: “A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento. Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência. O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores. A conhecida Lei de Lavoisier diz que na natureza nada se crea, nada se aniquila, tudo se transforma, se grafarmos nada se crea, esta lei está certa, mas se escrevermos nada se cria, ela resulta totalmente falsa.”

            Fiquei em dúvida quando ele diz que há entre os homens gênios creadores, pensava que isso fosse um atributo exclusivo de Deus. Talvez seja porque eu ainda não domino a profundidade do seu pensamento.

            Ele também faz uma crítica severa à humanidade, pois a que é conhecida não é de forma alguma, feita a imagem e semelhança de Deus, a que se refere o Gênesis. A intelectualização do instinto fez do homem um monstro de ganância e agressividade, cujas garras e dentes se aperfeiçoaram em forma de metralhadoras, bombas atômicas e aviões de bombardeio; fez dele uma repugnante caricatura de sexualismo desbragado e um inferno de doenças físicas e mentais, que nenhum animal selvagem conhece. Ele observa ainda que, de longe em longe, aparece algum homem individual que lembra um reflexo da Divindade, mas esses homens são esporádicos, não representam nem sequer 1/1000% da humanidade total.

            Faz em seguida uma pergunta que é um verdadeiro cheque. Devemos admitir então que as Potências Cósmicas falharam quando diziam “façamos do homem nossa imagem e semelhança”? Devemos supor que a tal serpente astuta tenha derrotado Deus? E que tenha frustrado a obra do Cristo Redentor, que parecia ter vindo para reintegrar a humanidade no seu grande destino?

            Mas ele mesmo responde... Se não podemos ver no homem a coroa da creação, e se por outro lado, não podemos admitir uma falência da Divindade e do Cristo, só nos resta recorrermos a uma terceira alternativa:

            “Deus creou o homem o menos possível, para que o homem possa se crear o mais possível”. Ao crear o homem, as Potências Cósmicas o dotaram de uma parcela da genialidade creadora da própria Divindade, para que ele, em virtude dessa creatividade, se pudesse fazer melhor e maior do que Deus o fez.

            Nessa creação indireta se revelou o Creador maior do que em todas as suas creações diretas. Todas as creações eram boas, mas a creação do homem é muito boa.

            Mas se o homem tem a intrínseca possibilidade de se fazer melhor do que o Creador o fez, possui também a possibilidade de se fazer pior do que Deus o fez. Se não houvesse duas alternativas opostas, não haveria livre arbítrio.

            Uma única creatura auto-realizável reverte em maior glória do Creador do que milhões de creaturas alo-realizadas.

            Assim, o plano das Potências Cósmicas não foi frustrado por um poder adverso. Esse poder adverso era necessário para que o homem fizesse de si algo maior do que dele fizera o Creador. O aparente caráter adverso da serpente era, na realidade, um fator complementar para atualizar a potencialidade creadora do homem embrionário.

            Tudo isso serve para aperfeiçoar o meu pensamento, de ser uma criatura creada pelo Creador, que sou um criador na transformação da matéria prima que o Pai colocou à minha disposição. E o mais importante, que as adversidades colocadas no meu caminho servem como estímulo para eu me tornar melhor do que o Pai me creou.

            Posso continuar a usar a linguagem primária, como fazia antes, mas agora sei o significado num nível de cultura superior.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 11/09/2013 às 00h01
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